|
Home
Sobre
Equipe
Email
Edições
|
|
2011 REVISTA ORGULHO - Orgulho
|
Diversidade faz a diferença!
|
 |
Saiba como ser bem recebido no mercado de trabalho |
 |
Por Juliana Kucharuk |
|
 |
Era início de semestre e a professora Maria Cristina Matos teve que lidar com uma situação de adaptação um tanto difícil. Os alunos de uma turma de turismo da universidade onde lecionava entraram em atrito. Um dos alunos da sala era gay e se vestia com echarpe rosa para ir à aula. O comportamento do aluno incomodou os colegas, que eram 70% evangélicos. A situação ficou tão intensa que a professora chamou os representantes dos grupos e chegou a um consenso: cada um mantém a sua opção sexual e religiosa “da porta da universidade para fora”, para que a sua liberdade não ofenda a liberdade do outro. Na semana seguinte, o nível de tensão da sala de aula já havia baixado e ambas as partes estavam em paz. O aluno foi sem a echarpe e os demais não causaram alvoroço. Esse é um dos princípios utilizados hoje pelo mercado de trabalho, segundo a especialista: você pode ser o que quiser desde que saiba ser profissional e se portar de acordo com cada lugar e situação.
Com experiência de 30 anos no mercado, a consultora de recursos humanos e PHD em gestão de pessoas, Maria Cristina Mattos acha que o mercado de trabalho está aberto a todos os candidatos em potencial e o que tem de inovador são empresas mais preocupadas em trabalhar com a diversidade de opção sexual, religiosa, de espaço geográfico, dentro da empresa: "Muitas empresas já têm trabalhos belíssimos com a diversidade, outras estão caminhando para isso, mas a gente ainda encontra uma fatia do mercado com empresas mais conservadoras, lideranças mais tradicionalistas, que ainda oferecem um pouco de resistência".
O Artigo 7º da Constituição Federal proíbe a diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil e por meio do princípio da igualdade, que deve ser observado, no trabalho, ou nos períodos pré-contratuais. Hoje, ainda é possível encontrar empresas que discriminem funcionários ou candidatos pela sua vida pessoal, mas a tendência é mudar essa realidade. “Falar que não existe preconceito eu estaria mentindo. Ainda existe.O cenário que se apresenta é que as empresas estão sabendo trabalhar a diversidade. Então, nas grandes corporações, nas multinacionais, isso já é comum”, completa Maria Cristina.
“O mercado de trabalho está cada vez mais exigente. Se pegarmos o perfil profissional da década de 70 e fizermos um processo comparativo da virada do milênio até a atualidade, vamos perceber que o perfil desejado hoje é muito mais amplo. Na década de 70 só se exigia do profissional experiência profissional. Mas atualmente os requisitos são enormes”, explica a consultora de recursos humanos e professora universitária, Tânia Guedes.
Até o século 20 a mulher não era bem vista no mercado de trabalho. Cuidar da casa, criar os filhos e ser uma boa esposa estavam entre os pré-requisitos para ser uma mulher de sucesso. Hoje, a realidade é outra. Depois de anos de luta a mulher ingressou no mercado de trabalho e conquistou um espaço para demonstrar que é capaz de cumprir todos os requisitos de uma mulher e ainda trabalhar. O negro enfrentou o preconceito por sua etnia por séculos, a ponto de ser rebaixado a escravo, mas hoje, no Brasil, encontramos chefes de grandes empresas, artistas, líderes e até políticos negros e bem-sucedidos. Da mesma forma encontramos o gay, a lésbica, o bissexual, o transexual, o travesti e os simpatizantes. Ainda encontram discriminação por sua opção, mas com o tempo têm feito as grandes empresas olharem além do estereótipo e encontrar grandes profissionais. Para a consultora, o mercado está interessado em trabalhar competências, conhecimentos, habilidades e atitudes e não em olhar para a diversidade. Por isso dá a dica: “Todos nós, para concorrermos a uma vaga no mercado de trabalho, temos que ter a aprendizagem permanente”.
Entre a opção escolhida e seu perfil profissional você deve ter em mente uma coisa: saber se portar como profissional. Maria Cristina recomenda ao candidato e ao funcionário essa chave para ser visto pelo seu potencial. “Quando a empresa trabalha com a questão da diversidade, porque num mundo diverso podemos encontrar muitos talentos, ela pede também que as pessoas saibam se comportar. Por exemplo, no lado religioso, a empresa não é o local de pregar a religião, a mesma coisa é o gay, a opção dele fica da porta da empresa para fora. Então, ele tem que dar resultado como outro qualquer. Ele tem que ser visto como profissional e não com o rótulo de gay ou de outra diversidade qualquer", orienta Maria Cristina.
Felippe Souza, de 21 anos, fotógrafo e diretor de arte na empresa de marketing digital Crista Web, alcançou o emprego que desejava. Depois de trabalhar em outras áreas que diz não terem a “sua cara”, encontrou no design e na arte o seu porto seguro. Para ele, o fato de ser gay não influenciou seu emprego e se tivesse influenciado seria para o lado positivo.
O fato do menino moreno e de olhos castanhos, aos 8 anos de idade, ter dado o seu primeiro beijo em outro menino, mexeu com sua cabeça até a pré-adolescência, mas depois que começou a se aceitar como gay a forma de ver o mundo e de ser visto pelo mercado mudou. “Eu não queria ser o que eu sabia que eu era. Eu tinha muito medo de sofrer. Mas quando você percebe que sofrer é inevitável e o que nos difere das pessoas é como reagimos a isso, tudo fica mais fácil”, diz Felippe.
Em sua adolescência, ele trabalhou em outras empresas que não o discriminaram por seu modo de agir. Ele diz que os comentários e brincadeiras que ouviu o ajudaram a amadurecer profissionalmente. “Já ouvi algumas piadas sem graça, comentários que não agradaram, mas se eu parar para pensar, foi em um momento em que eu não estava muito confiante. As pessoas são maldosas e elas percebem quando você não está bem consigo mesmo e das duas uma: ou os comentários te ajudam ou pioram. No meu caso, me ajudaram a manter uma postura profissional e a saber a hora certa de me soltar e para quem eu posso fazer isso”, ressalta o diretor de arte.
Hoje, para Felippe, o fato de ser gay é apenas mais um ponto de sua personalidade. Ele acredita ter alcançado uma maturidade profissional. “Hoje, eu sei que é só mais uma característica minha. Assim como eu sou moreno, tenho olhos castanhos, sou gay. O que eu faço entre quatro paredes não interfere na minha vida social, profissional. Eu ando com a postura de alguém que tem certeza do que é, que não vai se afetar por qualquer tipo de comentário”, comenta.
O outro lado da história
Um militar que não pode se identificar levou uma vida “normal” até os 16 anos de idade. Brincava dentro de casa, estudava, gostou de uma garota, teve o seu primeiro beijo com ela, até que se apaixonou por um menino de sua classe, na escola. “Quando eu era criança já tinha percebido que era diferente dos outros garotos”, lembra.
Apesar de ter tido relacionamentos com mulheres e com homens em toda a sua vida, diz que só se apaixonou três vezes. Todas as três foram por alguém do mesmo sexo. Apesar de sua opção nunca ter atrapalhado em antigos empregos, atualmente prefere manter-se no anonimato.
Alguns membros de sua família e amigos próximos sabem de sua opção. Ele contou para sua mãe, que não esperava a notícia, mas depois aceitou a opção do filho. O pai, uma pessoa mais conservadora, não admite essa possibilidade. "Minha mãe sofreu muito quando contei. Ela me disse que ele não suportaria a ideia. Prefiro não arriscar ...", comenta Da Silva.
Hoje, ele decidiu seguir o sonho do pai e não pretende decepcioná-lo, contando a ele que é bissexual. Ele diz ter medo de decepcionar aquele que lhe colocou no mundo, não poder conversar com ele, ter que sair de casa, perder o emprego e na pior das hipóteses causar algum tipo de ataque cardíaco em seu pai.
A pesar de ter que viver uma vida dupla na profissão que escolheu seguir Da Silva diz amar o que faz e se sente realizado. Trabalhando para o seu país, carrega sua opção como um enigma, algo que lhe fará viver uma vida parcial, até a morte.
Não são todos os setores do mercado de trabalho ou empresas que são receptivos à diversidade como as corporações que adotaram a postura gay-friendly. Em algumas empresas, mesmo que pequenas, o preconceito fala mais alto e só de olhar para as roupas ou a postura do possível funcionário, ou até mesmo olhares tortos e comentários no canto da boca, fazem com que o selecionado fique em uma situação desconfortável e sinta-se rejeitado, tanto durante entrevistas de emprego, entrega de currículos, como atuando dentro da empresa.
Nesses casos, se o candidato à vaga sentir-se discriminado, pode recorrer à justiça e abrir um processo, tanto no âmbito civil, para ser remunerado, como no criminal, onde o acusado responde por danos morais.
A onda do gay friendly
A consultora de recursos humanos Tânia Guedes explica que as empresas, atualmente, precisam abrir seus horizontes à diversidade. Segundo a especialista, a corporação que não aderir a este quesito vai apenas sobreviver e não competir com as concorrentes. “As empresas têm que inovar para permanecer no mercado, a fim de serem competitivas, se não vão morrer”, afirma.
Atualmente no mercado de trabalho grandes corporações têm aderido a onda gay-friendly, que investem e publicam suas marcas em eventos diversos como a Parada Gay e apoia o movimento GLBTT. Uma pesquisa realizada pela Market Analysis, no começo do ano, perguntou aos brasileiros quais marcas são mais receptivas ao público gay. Entre os nomes citados apareceram, a C&A, com 12,6% a Oi, com 5,3% a Riachuello, com 3,6% a Johnson & Johnson, com 2% os salões de beleza, com 4,7% a TV Globo, com 3,4% os call centers, com 3,2% e os hospitais, com 3%. Segundo a pesquisa, foram ouvidas 800 pessoas entre 18 e 69 anos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia e Brasília.
Dicas para arrumar emprego
A consultora Maria Cristina diz:
— Em tudo você tem que ser uma pessoa adaptável, pró-ativa, acertiva que dá respostas certas e objetivas, porque tem conhecimento profundo do assunto, ter nível de instrução desejável, ter inglês, bons conhecimentos de informática. Cada um no cargo que vai pleitear tem que demonstrar ao máximo. Ter flexibilidade, boas relações pessoais, saber trabalhar sob pressão, adaptabilidade, saber conviver em ambientes diversos. Hoje, a exigência é extensa, são muitos itens.
- deter o máximo de conhecimento possível.
Já o fotógrafo e designer Felippe Souza aconselha:
— A pessoa deve fazer o melhor pela empresa independentemente de crença, etnia. Nada disso pode interferir no seu desempenho e se for interferir, que seja para melhor. Por exemplo, uma pessoa que é gay talvez tenha mais referências por estar em contato com coisas diferentes, então que a pessoa use isso a seu favor.
— O segredo do meu sucesso profissional é a confiança que eu tenho no meu talento. Não sou menos ou mais por ser gay. Sou muito além disso e eu acredito que sou capaz. Acho que isso é fundamental!
|
|
|
|
|
|