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2011 REVISTA ORGULHO - Orgulho
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Sou gay, e agora?
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A hora da descoberta da opção sexual é um momento delicado para o homossexual |
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Por Mariana Serra |
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“Eu tinha 15 anos e, no começo, me assustei um pouco. Para mim, não era normal. Foi um mix de todos os sentimentos. Fiquei confuso, queria entender o por quê. Estava com medo...”. Para o estudante de nutrição Felipe Bueno, de 23 anos, a descoberta da orientação sexual foi tomada pela incerteza do que estava por vir. Depois de se relacionar com meninas, o jovem percebeu que não era desse gênero que gostava.
As amigas da escola levaram Felipe a um bar gay em Santos e lá ele conheceu um garoto, com quem ficou. A noite foi uma revelação. “O pior foi contar para a minha mãe. Eu estava muito angustiado com a reação dela, mas me surpreendi quando ela me falou que já sabia de tudo e que me amaria do mesmo jeito. Toda mãe conhece o filho que tem. A reação dela foi a mais natural possível”, relata.
Para se aceitar e contar para a mãe que era homossexual, Felipe contou com a ajuda de uma prima e um primo que também são gays. “Ter o apoio de mais alguém da família foi o que me confortou”. Assim como o estudante, a maioria dos homossexuais descobre a verdadeira orientação sexual ainda na adolescência. “É nessa fase que meninos e meninas estão com os hormônios à flor da pele e com o corpo se desenvolvendo. Com isso, eles percebem o que de fato dá prazer no relacionamento”, explica a psicóloga e especialista em terapia sexual, Márcia Atik.
O momento de se assumir para a família é delicado e, muitas vezes, pode nem ocorrer. Assim como é difícil para os filhos contar a orientação sexual, para os pais o choque é ainda maior. “A descoberta desencadeia todos os tipos de sentimentos relacionados ao sofrimento: decepção, medo, revolta, desespero, culpa, vergonha... varia de pessoa para pessoa. Às vezes, xingam para se sentir melhor, mas eu até prefiro que isso aconteça, senão guardam para si e ficam até doentes. Mas falar barbaridades para os filhos não pode”, diz Edith Modesto, criadora do Grupo de Pais Homossexuais.
A visão de uma mãe
Ela é mãe de sete filhos seis homens e uma mulher e, em 1992, descobriu que o caçula, Marcelo, na época com 22 anos, era homossexual. Desesperada, procurou ajuda de outra mãe para conversar sobre o filho, mas não encontrou. Para compreender melhor, começou a pesquisar sobre diversidade de orientação sexual e formou um pequeno grupo de mães de homossexuais em 1997: “Fiquei incomodada porque o meu filho não tinha namorada. Com mais cinco filhos homens, estranhei isso, até que perguntei se ele não gostava de mulher. Me surpreendi quando ele me falou que era isso mesmo. Minha reação foi de espanto, mas a ficha logo caiu, como uma paulada. Nunca tinha pensando que tinha um filho gay. Demorou bastante para entender”.
Até 1999, eram apenas quatro mães que se encontravam na casa de Edith, mas quando o Grupo de Pais Homossexuais foi criado no mundo virtual, começou a crescer. Hoje, o grupo já ajudou milhares de pessoas em todo o País. Ao lado do marido, Edith ajuda pais e filhos a entenderem melhor sobe homossexualidade. No GPH, a procura de jovens por apoio é maior do que a de pais. “Todos os jovens querem ser amados por seus pais e família como são. Assim também os filhos homossexuais. No nosso projeto para jovens, o "Purpurina" 13 a 24 anos, temos muitos casos de jovens com sérios problemas psicológicos, por não serem aceitos como são pela família”, conta Edith.
Descoberta do outro lado
Depois de um ano e meio de namoro com um menino, a depressão aliada à curiosidade fez a bancária Priscila Fernandes realmente se descobrir. Os novos ares proporcionados pelas amigas lésbicas levaram a estudante de 20 anos a conhecer baladas LGBTT e perceber que se sentia atraída por meninas. “Sempre achei interessante duas mulheres juntas, mas até então eu era hétero. Quando experimentei o outro lado, a curiosidade matou o gato. Hoje sou feliz”, diz.
Depois de algumas experiências com meninas, Priscila conheceu a atual namorada com quem está há mais de três meses. Apesar de pouco tempo, a experiência vivida no novo relacionamento mudou a forma de pensar da jovem. Realizada e feliz com o primeiro relacionamento sério com uma menina, nem tudo foram flores. A decisão de se assumir para todo mundo demorou.
“Achei que era uma fase. Era uma maneira que eu encontrei para não pensar no meu ex-namorado e isso funcionou. Eu ainda me considerava hétero, pois beijava mais meninos do que meninas, mas a minha nova ‘opção’ foi ficando séria. Geralmente, eu ficava com alguma menina só na balada e ninguém via, era super discreta. Era quase a ‘hétero da turma de lésbicas’. Mas tive uma relação muito intensa quando estava no terceiro ano do Ensino Médio e percebi que estava na hora de me assumir”, conta.
Entre os pacientes da terapeuta sexual Márcia Atik, uma surpresa: 70% dos atendimentos feitos são em famílias com filha lésbica. “Talvez isso ocorra, pois a maioria dos pais sonha em ver a filha se casando na igreja e gerando filhos. Me procuram para entender a mudança e, muitas vezes, tentar reverter a situação, como se houvesse uma forma de consertar. No fim, percebem que o que querem é ver a filha feliz”, diz a especialista.
A decisão chocou a família de Priscila, mas aos poucos a situação foi acalmada e deu lugar à compreensão. Hoje os pais, a madrasta, a avó e uma prima são os únicos que sabem da orientação sexual dela, mas entre os amigos a vergonha foi deixada de lado e deu lugar à aceitação.
“Não existe pessoa sem preconceito. É difícil falar isso, mas é a natureza do homem. Até dentro da comunidade LGBTT existe o preconceito. O bom é que o preconceito está diminuindo. Uma das provas é que a homossexualidade é assunto pautado para a mídia todos os dias. Quando isso acontece, significa que a sociedade está mudando. “Tem que ser muito macho para ser gay e o segredo é o respeito. E o amor sempre vence”, acredita Edith Modesto.
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