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  2011 REVISTA ORGULHO  -  Orgulho

 
Pega-Pega
Curiosidade, decepções amorosas e modismo são a causa da “pegação” entre as meninas
Por Willian Roemer
“Todo mundo espera alguma coisa/ De um sábado à noite/ Bem no fundo todo o mundo quer zoar/ Todo mundo sonha em ter/ Uma vida boa/ Sábado à noite tudo pode mudar...”


O trecho da música “Sábado à Noite”, interpretado pelo grupo Cidade Negra, resume bem uma noite de sábado de pura azaração na danceteria Capital Disco, no Complexo Mendes Convention Center em Santos. No imenso estacionamento, entre um carro e outro, é possível ver sem descriminação a “pegação” entre garotas e às vezes entre várias garotas ao mesmo tempo.


Os carros parecem formar uma barreira, fazendo com que não haja vergonha entre as jovens que extravasam suas emoções. A estudante de publicidade Rafael conta que praticamente todos os finais de semana “rola” uma “pegação” entre as meninas no estacionamento. “Ah! Isso é normal aqui”, conta Rafa, que prefere ser chamada assim pelas amigas.


A futura publicitária conta que em casa ninguém sabe a sua preferência sexual, somente as amigas mais próximas e as que ela acaba tenho um “caso”. “Acredito que meus pais não me entenderiam se eu contasse, eles são conservadores, então prefiro curtir minha balada, fico com uma ou outra às vezes e tudo bem”, desabafa Rafaela, que logo chama uma garota pra ficar perto dela enquanto conversa.


Ela conta que não quer nada sério e que gosta de curtir os momentos e que sair para as baladas é um jeito de aliviar as tensões do dia a dia. Pergunto caso ela se apaixone como fará em casa para contar para seus familiares? De forma serena Rafa explica que não quer nada sério e que já “colocou” isso na cabeça, pensa primeiro em termina a faculdade, já que está no penúltimo ano, conseguir um bom trabalho e depois começar a pensar no assunto.


Diferente dela é sua amiga que passou boa parte do tempo ao seu lado enquanto conversávamos. Sem querer dizer seu nome a jovem morena de sorriso simpático disse que na sua casa seus pais sabem que ela é homossexual e toleram a sua escolha. “No começo foi difícil para eles entenderem, mas com o tempo eles viram que era o que eu queria. Então só restava eles aceitarem”, fala com o olhar ao longe a jovem de piercing na orelha e no umbigo. Sobre “tolerarem” ela diz que eles não gostam que ela fique falando sobre assuntos de relacionamentos gays ou que ela vá com alguma companheira em sua casa, enfatiza que somente aceitam a sua escolha.


Rafaela intervém e diz para não entrar em assuntos “deprê”. A companheira de Rafa para aquela noite, diz que também não gosta ou pelo menos não quer um relacionamento sério no momento. Ela descontrai dizendo, “enquanto eu não acho a pessoa certa eu me divirto com as erradas”.


Sobre um relacionamento mais íntimo, ambas dizem que para isso precisam conhecer a garota que vão compartilhar esse momento, mas como disseram que não querem nada sério fico em dúvida nesse assunto. “Não queremos nada sério, mas para essa intimidade eu pelo menos tenho que me encontrar umas duas ou três vezes com a mesma garota, pode não ser nada sério, mas também não é nada banal pra ser qualquer uma” explica a jovem de cabeços presos e lábios avermelhados com batom.


Quando ia agradecendo pela conversa Rafa aponta para o outro lado do estacionamento e diz: “Olha lá!”. Me mostrando outra casal de garotas no maior amasso.


Tento me aproximar para conversar com esse outro casal e percebo que são mais tímidas que as últimas, explico a intenção da conversa e logo se retraem e dizem que não querem falar, insisto e dizem que é a primeira vez que fazem “aquilo”. Estavam se beijando.


Tento descontrair perguntando se foi ruim e elas sorriem e dizem que não, mas logo se afastam e não prolongam a prosa.



Opinião


Pesquisa feita pela reportagem revela que a maioria das entrevistadas acredita que as garotas estão se relacionando com outras garotas por curiosidade, decepção amorosa ou para poder provar algo para alguém. É claro que o sentimento também foi citado pelas entrevistas. Uma chegou a dizer que namora com homens, mas não consegue ficar bem, sem às vezes ter os seus “casos” com mulheres.


A quebra de tabus é um dos motivos que atraem esse relacionamento segundo algumas respostas. A constância de relacionamentos efetivos em baladas pode ser responsabilizada pelo consumo de álcool segundo algumas das respostas obtidas.

Somente duas de 11 pessoas ouvidas disseram que a estrutura familiar e fundamentos religiosos precisam ser revistos. Mas e você, qual sua opinião?