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  2011 REVISTA VENTURA  -  Ventura

 
Uma expedição à Ilha do Montão de Trigo
A cultura caiçara explorada em uma viagem ecológica pelo Litoral Norte de São Paulo
Por Jéssica Amador
A expedição à Ilha do Montão de Trigo — nome originado pela topografia em forma de monte — dura três dias e é uma verdadeira aventura. Distante 13 quilômetros do continente possui uma comunidade que até pouco tempo por não manter contato com pessoas que não fossem do próprio local acabou imprimindo à ilha a alcunha de “ilha dos monstros”. Como só se relacionavam entre si havia problemas genéticos, o que não ocorre mais.

Atualmente, vivem lá dez famílias, com 50 pessoas, conhecidos por monteiros, que unem o ecoturismo ao desenvolvimento sustentável. O empresário do turismo Rafael Chitolina Bencivenga descobriu a ilha quando fazia expedições pelo Litoral Norte, em 2006. Por não ter contato com quem vivia na ilha, os caiçaras diziam que os moradores da ilha eram “bichos selvagens”.

Num certo dia, no acampamento da Barra do Sahy, Rafael conheceu um morador da ilha que tinha ido ao continente para comprar combustível. Então, ao se oferecer para buscar de carro o que os moradores precisassem, ele despertou a admiração do habitante longínquo. A parti daí, surgiu a amizade entre eles.

“No início, tinham um pé atrás porque as pessoas que se aproximavam não queriam nada mais do que roubar o seu espaço”, conta Bencivenga. Com o passar do tempo, ele foi ganhando a confiança dos moradores e pediu para visitar: “Quando cheguei lá, me encantei. Hoje, a ilha é a menina dos meus olhos”.

Ninguém sabia ao certo quando a Ilha do Montão de Trigo começou a ser habitada. Conta uma dessas lendas marítimas que os moradores seriam descendentes dos sobreviventes de um naufrágio, ocorrido há mais de três séculos. Com a ajuda de um historiador, foi feito o levantamento histórico e cultural do local e se descobriu que é habitado desde 1700. Os moradores prezam a qualidade de vida e, consequentemente, têm uma vitalidade superior. “As nossas atividades na ilha são voltadas basicamente para o desenvolvimento sustentável do local. Lá, não existe nem energia elétrica. Eles assistem TV com o auxílio de baterias de carros”.

Monitores foram formados por Rafael para que pudessem mostrar os visitantes as particularidades do local.

O primeiro dia do passeio começa com a montagem do acampamento. Logo após, os visitantes encontram o morador mais antigo que conta histórias da vida caiçara. Já no segundo dia, começam as atividades propriamente ditas. O visitante tem que ter fôlego de sobra.

A trilha para o ponto mais alto do Montão de Trigo dura cerca de quatro horas, mesclando contato com a natureza e atividade física moderada. Ao voltar, os visitantes saboreiam um típico almoço caiçara, peixe com banana.

Neste mesmo dia, após o descanso do almoço, é a hora de explorar cavernas e grutas de água repletas de mistérios e com fauna exótica. Durante as três horas de mergulho, o visitante encontrará as mais variadas espécies de peixes e crustáceos como piabas, pargos, bodiões, salemas, lagostas, caranguejos, garoupas e badejos. De vez em quando é possível avistar peixes de grande porte, alguns dos quais são extremamente ariscos. Os peixes frade fazem um espetáculo à parte, solitários ou em duplas são facilmente encontrados entre as pedras.

No terceiro e último dia começa-se bem cedinho: já habituados ao local, os visitantes são convidados pelos caiçaras a contemplar o amanhecer visto de dentro da água. A atividade feita com os guias locais inclui pesca esportiva e de quebra, eles garantem o alimento para o almoço. Após a pesca, ainda há o mergulho para explorar as piscinas naturais e cavernas subaquáticas da região.

A aventura à Ilha do Montão de Trigo está quase chegando ao fim. Os visitantes voltam do mergulho, almoçam o que pescaram e, em seguida, levantam acampamento rumo ao continente.