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2011 REVISTA VENTURA - Ventura
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A diversidade esquecida
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Muito importante na natureza e pouco lembrada, a beleza do mangue é cenário de canoagem |
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Por Bruna Dalmas |
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O barulho da água cortada pela canoa e o remo, o som dos pássaros e as vozes humanas presentes é tudo o que se pode ouvir durante as duas horas de canoagem pelo manguezal que corta Praia Grande e São Vicente. A beleza pode ser observada antes mesmo de partir. O Portinho de Praia Grande — parque que fica logo na entrada da cidade — agrega várias opções de recreação e lazer.
Antes de entrar na água, o guia e sócio-proprietário da Caiçaras Expedições, Renato Marchesini, propõe aos visitantes uma sessão de alongamento e passa uma série de instruções. Dando início ao alongamento o foco é parte superior do corpo, já que costas e braços serão trabalhados durante o percurso. “Coloca os braços lá no céu. Inspira e respira. Sinta a natureza e deixa ela sentir você”.
Marchesini diz que a canoa nunca virou caso vire, instrui: “Solta o corpo e olha para o céu. A areia do manguezal é fina, como se fosse movediça, pode alcançar a altura da barriga da uma pessoa. Se alguma embarcação motorizada passar e formar uma onda, encare a onda de frente, como os surfistas fazem com a prancha”.
O guia também conta que a canoagem nessa região é feita há mais de 500 anos. Começou com os índios. Hoje, o passeio ecoturístico é equipado com canoas canadenses. “Se o remo está do lado esquerdo, a canoa vai para a direita e vice e versa”, diz. O equipamento tem três assentos. Quem fica na parte traseira possui 80% da direção. Para participar da canoagem, não é preciso ter experiência. Crianças a partir de sete anos já podem embarcar. O guia segue de acordo com o ritmo do grupo, que precisa ter de quatroa 11 integrantes para ser realizada.
Após as primeiras remadas, quem dá as boas-vindas é o guará-vermelho, ameaçado de extinção. Durante o percurso, é facilmente notado em bandos quase que o tempo todo. De longe, parecem frutas frescas em árvores, de tão intensa que é a sua coloração. Marchesini, que também é professor de ecologia, vai explicando sobre o ecossistema do manguezal, pertencente ao bioma de Mata Atlântica. Toda paisagem, fauna, flora e interações com o homem é vista de perto e encanta os olhos de quem nunca esteve em um contato tão próximo.
Lá existem 17 espécies fixas de aves. Entre elas, o socó-dorminhoco, a garça e o exibido biguá, que faz pose em cima de um galho com as asas abertas. Existem também os pássaros transitórios, como a batuíra, que na ocasião, ainda estava em território brasileiro, e em breve deverá migrar para o Canadá, em busca do calor do verão.
O caminho é permanentemente parecido. A água possui uma vasta expansão. As árvores de mangue possuem raízes grandes para suportar a maré que sobe e desce. Em alguns momentos era possível bater com o remo na areia de tão perto que a canoa chegava delas. O roteiro segue pelo estuário de Praia Grande, passa por São Vicente e retorna. Mas também é possível ter acesso a Mongaguá e Itanhaém.
Infelizmente, Marchesini conta que a busca por ecoturismo nessa época do ano é pequena em comparação ao verão. No fim do ano, tivemos que recusar as buscas porque não havia mais dia disponível. Essa é a melhor época para se praticar, porque não ha o risco de pancadas de chuva no meio do caminho”.
Explica que o passeio é importante para conscientizar o público sobre a preservação ambiental e chamar a atenção para necessidade de cuidar da natureza. Diversas vezes foi possível ver garrafas pet e sacolas plásticas trazidas pelo mar. O resultado da devastação do homem não para por aí.
Inacreditavelmente, no meio das árvores de mangue, bem adentro do manguezal, foi possível visualizar até mesmo uma poltrona estofada e um ventilador.
Buscando pela internet, a secretária de indústria naval Adriana de Souza Batista descobriu o que tinha tudo a ver com o que procurava. “Foi maravilhoso, além das minhas expectativas. Você só tem noção de preservação quando está em um ambiente agredido de fato”. É capaz de mudar a visão das pessoas? Ela garante que sim: “Pretendo não usar mais sacolas plásticas. Hoje, é o maior inimigo ambiental”.
Depois de duas horas praticamente imperceptíveis, é possível sentir uma pequena dor nas costas. Os insetos não incomodam e dificilmente são notados no momento. Mas é importante não esquecer o repelente para eventuais picadas de borrachudos.
No retorno à base, entre 17h30 e 18 horas, revoadas de diversas espécies de aves se encaminhavam às árvores recolhendo-se até o dia seguinte. “De noite, elas não conseguem enxergar, por isso dormem cedo.”, explica Renato Marchesini. Ao olhar para o céu, avistava-se inúmeros pássaros sobrevoando a canoa. Um momento inexistente na civilização.
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