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2011 REVISTA VENTURA - Ventura
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Quero voar de novo!
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Pular de parapente. Muitos têm vontade alguns têm curiosidade, mas poucos têm coragem |
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Por Joyce Salles |
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1,2,3 corre, corre, corre até os pés saírem do chão.
— UHUUUUUUUUL!
Foi esse grito que ficou entalado na minha garganta.
Esportes radicais nunca foram minha aptidão, ainda mais um esporte que envolvesse altura. Quando surgiu a ideia de fazer uma reportagem sobre parapente, confesso que fiquei com medo. Desde o início.
No meu primeiro contato com o esporte, fiquei mais calma quando vi um dos alunos do Morro do Voturuá voando pela primeira vez, me pareceu mais tranquilo do que imaginava.
O parapente é uma espécie de para-quedas que já sai aberto, e isso me transmitiu uma sensação de segurança.
Conversei com instrutores, monitores e pilotos e a pergunta que não deixava de fazer era:
— Você já se envolveu em algum acidente? — perguntei.
As respostas eram sempre as mesmas
— Uma vez só, mas nada grave.
Fiquei imaginando que isso era um bom sinal.
Confesso, demorei para tomar coragem. Fui diversas vezes para a rampa e olhar me agradava mais do que estar no lugar daquelas pessoas.
Minhas limitações não estavam apenas no medo, mas também no tempo.
A melhor época para se voar é de janeiro a abril, quando a mãe natureza é mais generosa, e dá condições de voo quase todos os dias. Com a entrada de uma frente fria, fiquei mais receosa ainda. Meu celular tocou.
Era Reginaldo, o “Baratta”, instrutor de umas das escolas de parapente:
— Alô, Joyce, corre aqui para a rampa, o tempo está bom para pular...
Saí correndo de casa, de moto. Ao chegar à rampa — estava deserta. Semanas atrás estava cheio de pilotos colorindo o céu com seus parapentes. Preenchi o formulário com os meus dados e paguei o voo, R 120,00. Depois disso, fui rumo à rampa localizada ao lado da sede. Meus passos já não estavam firmes.
A terra já não recebia mais as pegadas do meu tênis.
Na rampa me equipei — capacete e uma espécie de mochila, que ia até meu joelho. Nela, um acento chamado de selete cintos saiam e prendiam-se em minhas pernas e barriga. O instrutor ficou atrás de mim preso pelos mosquetões. Naquele momento, recebi a seguinte instrução:
— Coloca a mão para trás e segura no acento. Assim que a gente decolar, você a empurra para baixo de forma que sente nela.
Por um momento descontraio dizendo que sou um pouco escandalosa e pergunto se posso gritar. O instrutor respondeu:
— Sem problemas, é o que mais acontece.
O monitor é quem auxilia, para esperar uma corrente de vento. Segura numa das minhas alças e coordena a minha meus dedos estão geladas. Não é por conta do frio que faz. Meu coração, que já estava acelerado, parece que vai parar na boca e faz com que minha garganta dê um nó. Lá fui a 180 metros de distância do chão. Minha voz não saiu, meus olhos olhavam para meus pés fixos no chão que em segundos ficariam pendurados. Na minha cabeça não vem nada, mas minhas mãos por conta própria empurram a selete e me acomodo. O silêncio paira durante alguns segundos e o barulho do vento comanda. Escuto uma voz:
— Joyce, pode soltar a cadeirinha e segurar essas alças.
Meu coração sossega, o medo parece que ficou na rampa — paz — meus olhos não param, lacrimejam com a batida do vento. Olho para o horizonte. No mar os navios mais parecem barquinhos de brinquedo. Santos, São Vicente, Praia Grande e Guarujá parece ser uma cidade só. Passo pertinho do morro. “Como é linda a natureza aqui de cima”, penso.
As pessoas que caminham na praia, mais parecem formigas, os carros não param na avenida movimentada, mas o vento é o único barulho que ouvimos. Os surfistas que se aventuram no mar parecem pontinhos.
O voo é tranquilo e depois de alguns minutos no ar consigo conversar como se nem estivesse voando bem mais alto que os pequeninos prédios de 20 andares da praia.
Cercados por urubus, o instrutor conta que é uma ave preguiçosa e fica em térmicas de ar onde não é preciso bater as asas. É impressionante como os pensamentos vêm e vão rapidamente. Uma manobra um pouco mais ousada para o meu gosto, meu medo volta, mas vai embora antes mesmo que ficasse tensa de novo. O instrutor pergunta se estou enjoada e respondo que não. Mas depois de ficar olhando muito para baixo o enjoo vem me visitar e comunico o instrutor, que então resolver terminar o voo para não haver problemas.
Vamos abaixando, em busca de correntes de vento e tem horas que conseguimos sobrevoar o mar. A instrução do pouso é simples:
— Vai saindo da cadeirinha e quando os seus pés começarem a tocar o chão continua correndo até eu pousar.
E assim eu faço, antes mesmo de tocar no chão vou batendo as pernas no ar. Assim que toco, dou alguns passos e acabo caindo sentada no chão.
— Normal — ele diz.
Uma sensação vem, o enjoo passa, o que me resta é tristeza pelo voo ter terminado.
— Quero de novo! — peço.
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