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2011 REVISTA VENTURA - Ventura
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Trilha ecológica além dos cinco sentidos
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No Guarujá, o exercício nas matas pode ser feito na Serra do Guararu. Nossa reportagem foi até lá conferir |
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Por Tássia Martins |
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O cenário é comum para os aventureiros. Já para uma recém-aventureira como eu nem tanto. A trilha estreita em meio à mata apresenta poucas dificuldades. Alguns barrancos próximos de onde se caminha ou então a mata fechada em pontos históricos. Isso mesmo, os visitantes que entrarem na Serra do Guararu irão deparar com destroços dos séculos 15 e 18.
O caminho até o local é uma atração à parte. Partindo do Centro do Guarujá, mais precisamente da Praça dos Expedicionários, na Praia de Pitangueiras, seguimos pela rodovia SP 61 — Ariovaldo de Almeida Viana ou Guarujá-Bertioga. No Km 5,5, o aviso: “Reserva da Serra do Guararu. Respeite a Natureza”. Seguimos pela estrada até nos esquecermos que estamos no meio da “selva de pedras”, pois a bela paisagem verde começa a predominar e um lindo céu em tons de azul e branco emolduram a paisagem. O tempo que se leva para chegar até o local é de aproximadamente 40 minutos de carro.
A entrada da trilha fica bem perto de Bertioga, antes de chegar à balsa que dá acesso à cidade. Deixamos o carro estacionado próximo a um bar que beira à estrada e logo começamos a caminhada. Confesso que não estava preparada fisicamente então, adentrei a mata com receio de acordar no dia seguinte com dores musculares de uma recém-aventureira. Tranquilizo-me ao ser informada pelo guia da Secretaria de Turismo, João Henrique dos Anjos, que não há muitos obstáculos na trilha.
Na rota da Serra do Guararu, o cheiro de mato predomina. Muitas árvores nativas da Mata Atlântica, como os ipês e quaresmeiras, florescem no começo do ano. As sementes de algumas plantas servem de alimento para os ligeiros esquilos e pássaros. Aliás, em um ponto especifico da trilha, um cheiro forte impregna no nariz e logo se vê manchas brancas na vegetação. Ali é o “banheiro” dos pássaros.
Depois de caminhar cerca de 20 minutos chegamos às Ruínas arqueológicas da Armação das Baleias. Em seguida, encontramos o Forte de São Felipe e a Ermida de Santo Antônio do Guaibê. João Henrique conta que a Armação das Baleias teria dado início à industrialização do País, já que foi a primeira fábrica a produzir óleo de baleia, que servia na produção de argamassa para construções. Já no Forte foram celebrados os primeiros cultos religiosos pelo padre José de Anchieta, em terras tupiniquins.
Hoje, o cenário atrai as mais variadas plantas, borboletas de asas coloridas, que no silêncio e calmaria do lugar até se deixam ser fotografadas. Em contraste, algumas paredes dos destroços pichadas por vândalos. O passeio segue e logo deparo com outra trilha: a de acesso para a Prainha Branca. Apesar das picadas de mosquitos do tipo borrachudo, no fim do passeio, o saldo é positivo. Seguimos até a trilha que leva à Prainha Branca. Lá me surpreendi com uma vista paradisíaca. O sol estava se despedindo e em contraste com o mar, formou-se um lindo cenário. Depois de nos reabastecermos com água gelada, João Henrique e eu enfrentamos mais uma longa caminhada, com descida acentuada.
Se você for um aventureiro iniciante, não se esqueça de ir com uma roupa leve tipo de ginástica, passe repelente, não leve bolsas pesadas ou muitos acessórios. Uma garrafa de água é o suficiente — isso se só for fazer a caminhada histórica, que dura cerca de 45 minutos. Além disso, o passeio só será possível, quando não estiver chovendo.
Próximo à balsa existem estacionamentos, inclusive particulares, que custam R 10,00 o dia inteiro. Há também alguns barzinhos. Não precisa pagar para entrar na trilha. A melhor rota é a opção do caminho de baixo, para quem vai conhecer as ruínas. A outra passagem leva ao paraíso da Prainha Branca, habitado por famílias de pescadores. Ali existem pousadas simples que recebem surfistas e turistas que gostam de lugares incomuns e com placas indicativas “Prainhaterapia”.
Um monitor especial
Miguel Almeida Flávio é um dos monitores da Serra do Guararu. O garoto de apenas 13 anos leva turistas do mundo inteiro para conhecer o lugar. Até aí tudo bem, se não fosse por um detalhe. Miguel é cego. Sua deficiência visual no olho esquerdo lhe faz ter apenas 5% de visão e no olho direito, 10%.
Ele quebrou os tabus e soube enxergar muito além. Incentivado por Silvia Cabral, coordenadora do grupo de monitores da Serra do Guararu, o garoto aproveitou a oportunidade e hoje é o monitor mirim do local.
Miguel já guiou cinco grupos, sempre com crianças deficientes visuais. No total, 25 crianças já percorreram o percurso histórico da Serra do Guararu, sendo guiadas por ele. No percurso, é acompanhado por algum adulto, mas com o apoio de uma corda com oito nós ele indica as partes culturais e o tipo de vegetação da mata atlântica sem nenhuma dificuldade.
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