|
Home
Sobre
Equipe
Email
Edições
|
|
2011 REVISTA MUNDO ECOLÓGICO - Mundo Ecológico
|
A longa vida dos vilões do lixo
|
 |
Os produtos são úteis e acabam logo, mas as embalagens... |
 |
Por Thaís Moraes |
|
 |
Refrigerante, molho de tomate, sucos de caixinha, sabão em pó. Todos esses produtos já são comuns no cotidiano. Apesar de eles terem sidos criados para facilitar a vida do homem moderno, também podem se tornar grandes vilões. Não o produto em si, porque este acaba rapidinho, mas as embalagens que os armazenam.
O plástico, comuns em embalagens de xampu, de amaciantes de roupa e diversas outras coisas pode demorar de 50 a 450 anos para se decompor. As caixas de papelão e os papéis levam de três a seis meses. O alumínio, utilizado em latinhas de cerveja e refrigerante demora mais de 500 anos para desaparecer.
Mas o campeão de todos é o vidro: mais de 4000 anos é o tempo de degradação dele. Alguns materiais como borracha, isopor, esponja e cerâmica possuem tempo de decomposição indeterminados.
Imagine esses materiais misturados com o lixo orgânico, que demora apenas de seis a 12 meses para desaparecer. Imagine esses produtos recicláveis produzidos diariamente por você, seu bairro, sua cidade, seu estado e seu país. Em algum momento, haverá tanto material que não vai mais existir lugar para serem despejados.
É por isso que reciclar é tão importante. Mas o problema não para por aí. Quando não é feita a reciclagem, o material não volta para a cadeia de produção e por isso, mais matéria-prima e mais recursos deverão ser extraídos da natureza para fabricar mais e mais produtos.
“Reciclar implica em reduzir o uso de matérias-primas. Quando você recicla, evita que uma empresa tire mais matéria-prima transforme-a usando mais agentes químicos, e faça substâncias que são mais nocivas ao próprio ecossistema”, explica o biólogo e doutor em ecologia, Fábio Giordano.
Porém, há certos tipos de materiais que não podem ser reciclados ou são reciclados parcialmente. O único material que é 100% reciclável é o alumínio. Mas para reciclá-lo consome-se muita energia.
Segundo Giordano, o ideal é praticar os três R’s: reduzir, reutilizar e por último reciclar. O primeiro passo é diminuir o consumo de materiais. Já o reaproveitamento é melhor que a reciclagem. Por exemplo, uma garrafa de plástico joga-se fora e automaticamente incorpora-se energia na reciclagem. Uma garrafa de vidro não, pois é reutilizável.
Para o biólogo, reciclar não deve ser visto como a solução de todos os problemas. “Não existe nenhuma reciclagem que não envolva também algum tipo de gasto, de água ou energia. Diminuiu-se um pouco o dano ao meio ambiente, mas não se deve pensar que o problema está sendo zerado”.
A coleta seletiva é separada em papéis, plásticos, metais e vidros. Existem indústrias que reutilizam esses materiais para a fabricação de matéria-prima ou para fazer novos produtos.
Histórias
Avenida Conselheiro Nébias, 96, Paquetá, Santos. Para encontrar este endereço, é preciso se basear nos números do lado ou da frente, pois não existe nenhuma placa ou pintura na parede que indique o 96. Entrando no enorme galpão, é possível avistar dez mulheres e uma grande quantidade de sacos de lixo, pedaços de móveis, garrafas pet e papéis. Das dez mulheres, três estão rasgando papel e cinco separam materiais. Das duas que restaram, uma varre o chão e a outra coloca a prensa para funcionar.
Todas possuem um olhar desconfiado quando a repórter pergunta se pode entrevistá-las. Depois de uma rápida conversa, apenas uma funcionária que escutava rádio atentamente no seu walkman não aceitou ser entrevistada.
Alexandra Sabo da Silva tem 25 anos. Não é casada no papel, mas mora com o seu companheiro há três anos. É mãe de dois meninos, um de seis anos e o outro prestes há completar um ano. Alexandra e seu irmão, hoje com 16 anos, foram criados com o dinheiro da reciclagem. Seu pai, Laércio, é carrinheiro até hoje. Já sua mãe, Ana Maria, fez o mesmo trabalho durante muitos anos, mas no momento trabalha no mesmo local que a filha.
Ana Maria trabalha de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Já funcionárias como Alexandra, que têm filhos pequenos, trabalham até as 16h30 na Associação dos Trabalhadores e Catadores de Materiais Reciclados da Baixada Santista.
“Trabalho com reciclagem há três anos, mas estou aqui há uns dois meses. Aqui chega de tudo: papel branco, misto, plástico, copinho”, conta Alexandra. A mãe, Ana Maria, hoje com 45 anos, está no ramo há 20: “Gosto do meu trabalho, não me vejo trabalhando com outra coisa”.
A Associação já existe há muitos anos, mas o local e o método de trabalho são recentes. No final de janeiro deste ano, foi criada uma parceria entre a Associação e a empresa de gestão ambiental, Santos RC, que é a responsável pelo espaço físico e pelo treinamento dos funcionários.
“Além de cedermos o local, a intenção é profissionalizar os trabalhadores. Fizemos palestras sobre higiene, dinâmica e procedimentos de segurança. Já existia o caminhão e as prensas, mas eles não tinham o modelo de trabalho que eles têm agora”, explica um dos proprietários da Santos RC, Armando Cesário de Souza.
As mulheres são as responsáveis pela separação e pela prensagem do material. Já os homens buscam o lixo e levam até a associação.
Brenda Joanes de Jesus Silva, 19 anos, decidiu voltar a trabalhar depois que perdeu o filho devido ao problema de pressão alta, ocorrido durante o oitavo mês de gestação. “Fiquei com depressão, aí voltei a trabalhar para me distrair. Também é bom ganhar experiência.” Brenda pretende continuar por mais algum tempo na associação até conseguir um emprego melhor.
A cooperativa de reciclagem não tem vínculo com a coleta de lixo limpo, realizado pela Prefeitura de Santos. Todo o material é vendido para uma indústria em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. A indústria compra o material, recicla, e este entra novamente na cadeia como matéria-prima. Já a renda obtida pela venda é dividida igualmente entre os funcionários. O salário não é fixo, quanto mais se recolhe e se vende, maior é a remuneração. “O problema é que muitas empresas vendem o lixo que produzem e não doam”, conta Alexandra.
Hoje, a associação conta com alguns fornecedores de material. Desde o dia 16 de maio, a cooperativa recolhe diariamente materiais recicláveis no Centro de Santos. A iniciativa é uma parceria com o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Baixada Santista e Vale do Ribeira SinHores. Sendo assim, o Centro é o único bairro que recebe diariamente coleta de materiais reciclados na Cidade. O caminhão sempre passa por volta das 16 horas, quando a maioria dos restaurantes encerra o expediente.
Se você segue o exemplo e separa o lixo limpo que produz em casa ou na empresa, basta ligar para a Associação. Além de cooperar com o meio ambiente, ajudará e muito essas pessoas que fazem da reciclagem seu meio de renda.
|
|
|
|
|
|