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  2011 REVISTA MUNDO ECOLÓGICO  -  Mundo Ecológico

 
O caminho dos resíduos
Você sabe para onde vai o lixo que você produz? Desde restos de comida a colchões velhos? Fique atento na reportagem e descubra. Saiba mais: o que é possível fazer para ajudar na manutenção do planeta?
Por Thaís Moraes
Quatrocentos e oitenta toneladas ou três baleias-azuis maior animal do planeta, que pode chegar a 160 toneladas e medir 33 metros. Esse é o tamanho da quantidade de lixo acumulado em Santos no dia 24 de maio de 2011.

E é esse o volume de resíduos sólidos produzido diariamente pela cidade. Em 24 horas, Santos transformou-se em um amontoado de lixo, de animais e insetos à procura de comida. E exalou um forte odor. Tal cenário foi construído devido a uma greve feita por 3 mil trabalhadores que atuam na limpeza urbana nas cidades de Santos, Guarujá, Bertioga, Cubatão, Praia Grande e Mongaguá. Os funcionários reivindicavam melhores salários.

Em situações como essas, é que percebemos a importância dos coletores de lixo e como o trabalho deles é essencial no dia a dia. Mas, para onde vai todo o lixo que produzimos ou também chamados resíduos sólidos? Depende.

Leia a reportagem e saiba para onde vão os restos de comida, as latinhas de refrigerante, as embalagens de xampu, o vidro da maionese, o colchão velho, o óleo depois de fritar aquela batata frita, o entulho produzido depois de uma obra ou reforma, e até mesmo as necessidades fisiológicas.



Santos amanheceu ensolarada. Finalmente depois de vários dias chuvosos, é possível ir à praia e tomar um banho de mar. Chegando ao jardim, já dá para ver a bandeira vermelha que avisa: o mar está impróprio para banho. Então a alternativa é se refrescar no chuveirinho. Mas o que muita gente não sabe é que a balneabilidade está diretamente ligada ao tratamento de esgoto e à geografia da região.

Os nossos resíduos corporais, ou seja, aquilo que comemos e bebemos, vão para a rede de esgoto. Lá eles seguem para uma estação de pré-condicionamento, que fragmenta separa em partes muito pequenas esses resíduos matando os microorganismos que podem provocar doenças. Depois desse processo, os resíduos são lançados a quatro quilômetros da costa, no emissário submarino, que fica na divisa entre Santos e São Vicente.

O mesmo acontece com a sujeira das ruas, que com as chuvas vai para o bueiro, também cai na rede de esgoto e faz o mesmo caminho até o mar. Toda vez que chove, a cidade é lavada e esses resíduos se acumulam no canal do Estuário, levando ao comprometimento por alguns dias da qualidade da água.

“Áreas costeiras próximas a grandes centros urbanos têm uma qualidade de água muito ruim. Santos é uma baía porção de mar rodeada por terra. Já as praias do Guarujá são mais limpas porque têm mar aberto, têm uma renovação.”, explica o Secretário de Meio Ambiente de Santos, biólogo e professor, Fábio Nunes.

O mesmo se aplica à cor da areia da praia. Em Santos, a coloração é mais escura porque se mistura aos resíduos. No Guarujá, por exemplo, a areia é mais clara, já que não há um contato muito grande com os dejetos. Entretanto, os nossos resíduos corporais não poluem as águas porque é matéria orgânica. O próprio mar processa o material, que serve de alimento para camarões, microcrustáceos e micro-organismos aquáticos, como os zooplânctons.

Agora que você já sabe para onde vai o seu resíduo corporal, certamente vai pensar duas vezes antes de entrar no mar se avistar a bandeira vermelha.



O lixo nosso de cada dia

Resíduos orgânicos como restos de comida, objetos como cotonete, cabelo, papel higiênico, palito de dente, fio dental, fraldas e outros materiais são produzidos diariamente em Santos, por uma população de aproximadamente 419.400 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE de 2010. Todo esse resíduo chega a 800 toneladas por dia, sendo 480 de procedência doméstica e o restante recolhido na varrição das ruas, das praias e dos caminhões do cata-treco.

De acordo com a Terracom, são 850 funcionários responsáveis pelos serviços de limpeza urbana. Quarenta e oito motoristas dirigem os caminhões compactadores e 120 homens fazem a coleta de lixo. O resto está dividido entre varredores, ajudantes gerais e operários de máquinas pesadas.

Santos conta com coleta diária de lixo: duas vezes nos bairros do Centro e do Gonzaga e uma vez no restante da Cidade. Das 6 às 14 horas é feita a coleta nos bairros da linha da máquina para a praia. Já das 18 horas às 2h30, é a vez dos bairros do meio da Cidade para o Centro terem seus resíduos recolhidos.

Os caminhões que passam pelas ruas carregam cinco toneladas de lixo e seguem para uma área de transbordo no Bairro da Alemoa, na Zona Noroeste de Santos. De lá, caminhões maiores, de 30 toneladas, vão para um aterro sanitário, que fica no Sítio das Neves, na área continental.

Até 2002, todos os resíduos eram lançados no lixão da Alemoa, que foi fechado com quase 30 metros de altura. Mas o que é um lixão? É um grande espaço a céu aberto que serve apenas para receber o lixo. Não há tratamento para o chorume, um líquido negro e fétido liberado pelo lixo e que contamina o solo, a água e os lençóis freáticos.

Já hoje, existe o aterro sanitário, um local próprio para receber o lixo, pois é impermeabilizado por uma base de argila e lona plástica, que impede o vazamento do chorume para o subsolo. Lá, o líquido passa por um tratamento e é lançado no rio. Também é feita a captação e a queima do metano, gás liberado pela decomposição da matéria orgânica, que pode ser usado para gerar energia.

Apesar de o aterro sanitário ser o local correto para a destinação de lixo, segundo a legislação, o secretário de Meio Ambiente, Fábio Nunes, revela que isso ainda não é o bastante. “Não queremos isso, queremos que a população separe. Das 13 mil toneladas estimadas por mês, apenas 400 são recicladas. Queremos que a parte orgânica vá para o aterro e se decomponha durante os anos, e o reciclável vire matéria-prima para a indústria da reciclagem.”