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  2011 REVISTA BIKE  -  Bike

 
Elegância em forma de gente
Uma senhora de 50 e poucos anos, bem vestida, coloca o capacete e anda em sua bicicleta branca de três rodas e com um cesto na frente. Sônia Maria Portela Máximo mostra o que é andar de bicicleta com elegância.
Por Rubia Pierry
Uma senhora bem vestida, de 50 e poucos anos, coloca um capacete. Logo em seguida, sobe numa bicicleta rosa e branca, de três rodas equipada com dois cestos, um na frente e outro atrás. O veículo tem ainda dois retrovisores de moto e uma buzina corneta. Ela sai do prédio e toma o seu caminho, vestida de preto e com óculos de aros brancos com detalhes em bronze. Nesse dia ela usa também um delicado colar de pérolas que faz conjunto com os brincos. As unhas, em tom vermelho, completam o ar elegante. Os cabelos curtos e com reflexos dourados transmitem a imagem de durona. Os que a conhecem admiram a sua disposição e excentricidade. Às vezes, desfila na bike com a cadela preta da raça scottish terrier, a Queen, que carrega num dos cestos.

Sônia Maria Portela Máximo — a senhora que parece ter 50 e poucos anos — na verdade tem 68. Aposentada, mesmo assim é gerente geral de uma empresa de segurança. É também síndica do edifício onde mora há 17 anos, no Boqueirão. Lida com moradores muito exigentes. Durante a conversa, que na concepção dela deveria ser básica — “É rápido, né? Uns dez minutos?” —, além de objetiva, revelou-se prática. Mas os “dez minutos” renderam horas. Sentiu-se à vontade contando histórias de sua bicicleta modificada, sem marca definida.

Sônia lembrou da vez em que passou em frente a uma loja de carros e um grupo de funcionários começou a assoviar e gritar — “Aê, tia, é isso aí!”. Há seis anos é dona da bicicleta. Apenas uma vez sofreu um acidente, culpa, segundo ela, de um motorista descuidado que entrou na contramão. Teve um dente quebrado e seu meio de transporte foi detonado. Foi indenizada então uma nova bike no mesmo estilo. Só que o dente não foi coberto pelo seguro: “Então, abri um processo contra o motorista”, conta.

“Levo pra casa nos cestos as compras que faço no mercado. Vou às aulas de inglês, à academia e levo a Queen à veterinária sentada na cestinha”, ressalta Sônia Maria. Se quisesse, poderia andar de carro do ano, como o Honda City que têm na garagem. Mas não o usa: “Quem dirige é meu marido. Prefiro me exercitar e andar de bicicleta”. Ela usa o triciclo para tudo e garante ter coordenação motora, equilíbrio e noção para fazer curvas difíceis, que devem ser calculadas, pois a bike pode virar com certa facilidade, em consequência das três rodas, duas atrás e uma na frente. Casada há 33 anos e com três filhos, dois homens e uma mulher, Sônia reclama da artrose. Em um dia triste da sua vida teve de colocar uma prótese no quadril. Antes disso, já se exercitava e a prótese não atrapalhou em nada a sua vida ao contrário, continuou a andar de bicicleta como se nada tivesse ocorrido.

Por trás da postura de uma mulher firme, sorriu disfarçadamente quando contou sobre os carrinheiros: “Todos me comprimentam por causa do triciclo e eu retribuo, são meus amigos também”. Reclama um pouco do trânsito: “Isso tende a piorar. Ganho muito mais tempo andando de bicicleta”. Aos fins de semana, para variar a rota da casa para o trabalho, prefere dar uma circulada na ciclovia. Morre de medo de cair. Para garantir sua segurança anda com uma mão no meio do guidão, variando os lados, dependendo da direção que toma no passeio.

Em dias chuvosos, Sônia Maria não põe salto alto para sair de carro. Dispensa tudo isso e coloca uma capa de chuva para ir trabalhar. À noite, usa um colete sinalizador por precaução. Cuidadosa, não esquece o capacete e os olhos sempre estão atentos nos retrovisores de moto acoplados ao guidão, ao lado uma buzina azul de som estonteante. Todo o encanto de sua bike é completado por uma luz vermelha que pisca embaixo do banco. Lá vai a elegante Sônia Maria.