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Dopping do futuro
Ficção científica ou realidade?
Por Gabriela Soldano
Fotos: Gabriela Soldano
Depois do encerramento dos Jogos Olímpicos na China, a rede de televisão alemã ARD Network produziu um documentário, que denunciava: atletas da China e de outros países teriam utilizado o dopping genético para obter suas medalhas.

Um hospital chinês teria realizado o tratamento de disseminação de células-tronco pela corrente sangüínea, fortalecendo os órgãos e melhorando o desempenho dos atletas, pelo preço de US24 mil. O Ministério dos Esportes da China negou tais fatos, e afirmou que a sede dessas Olimpíadas combate qualquer ilegalidade nos jogos.



O professor e coordenador de Educação Física da Unisanta Nicolau Teixeira Ramos explica que se houver alguma suspeita todos os testes de anti-dopagem terão de ser refeitos. "As amostras dos testes antidopping ficam guardadas durante cinco anos, conforme exigência olímpica. Se ocorrer alguma suspeita nesse período, todas as amostras terão que ser testadas novamente. Não importa se o atleta ganhou ou não disputou. Todos devem passar por novo exame.



A confederação de cada atleta deve fazer o exame e mandar para o Comitê Olímpico Internacional. Dessa forma, todos os exames retornam e são refeitos pra ver se existe algum tipo de doping."

O doppin genético já é considerado o "dopping do futuro". Seu conceito está na lista da Agência Mundial Antidopagem desde o ano de 2003.

Procedimento - A técnica consiste na preparação de células humanas, que melhoram a performance física, sem recorrer a qualquer substância ilegal, ou seja, altera-se a parte genética do atleta de modo a adequar a estrutura de seu corpo às necessidades de seu esporte.



O professor doutor e fisiologista do Santos Futebol Clube Ivan Piçarro explica que o dopping genético é a manipulação dos genes, modificando o que a célula produz ou faz. "“O que se faz é pegar uma bactéria e tirar o material genético dela, introduzindo um gene específico para a produção de hormônios. Por exemplo, se for inserido o hormônio do crescimento, a partir de então a bactéria será uma produtora deste hormônio. É simplesmente pegar um vírus ou uma bactéria e colocar neles um gene sintético, aplicando no indivíduo a fim de ter um melhora muscular ou um aumento de hemoglobina."



O professor Piçarro explica, ainda, que há uma grande busca por estes resultados na medicina. "Os médicos poderá curar doenças crônicas, como diabetes, Alzheimer, Parkinson. Porém, tudo isso são tentativas que demorarão muito tempo ainda para acontecer."



Revelação - O dopping genético é de difícil detecção, pois ocorre no próprio corpo do atleta, ou seja, é fisiológico e não exige o uso de substâncias proibidas. Mas, é eficaz.

As análises sangüíneas convencionais não o detectam, pois nenhuma substância ilícita foi introduzida na corrente sangüínea do atleta, uma vez que o estímulo ao aumento de glóbulos vermelhos aumenta a oxigenação, ocasionando resistência ao esforço físico.



O professor Nicolau Teixeira afirma que o Comitê Olímpico Internacional ainda não pegou nenhum atleta utilizando-se deste doping. "É difícil pegar o doping genético, porque o atleta não produz uma prova no seu corpo, uma vez que a pessoa terá mais um cromossomo que altera o metabolismo. Para o atleta quanto mais acelerado o organismo, melhor."



Práticas - O método mais moderno para o aumento dessa capacidade de transportar oxigênio é o EPO diminutivo da eritropoetina. Injetando essa versão sintética do hormônio secretado pelo rim, o EPO estimula a produção de glóbulos vermelhos pela medula óssea, o que aumenta a hemoglobina, aumentando consequentemente o transporte de oxigênio na corrente sangüínea. O resultado são músculos com maior energia e melhor desempenho nas práticas esportivas.



O professor Piçarro declara que esse procedimento ainda não é realizado em seres humanos. "O que existe é uma bactéria chamada AAD, da qual os pesquisadores tiram o material genético e introduzem um gene que estimula o fator do crescimento. Isso é feito hoje somente em ratos.



Foi realizado em uma Universidade dos EUA, onde eles conseguiram modificar a força e a velocidade destes ratos, aumentando a massa muscular. Em pessoas isso ainda não foi tentado. E se for, dificilmente será reconhecido de imediato."



Ficção - Assim, o doping genético seria hoje aplicado apenas na teoria. "Algumas técnicas estão sendo estudadas com a finalidade de curar doenças crônicas. O gene destes indivíduos seria modificado para fabricar uma proteína, por exemplo, ou então lutar contra o câncer", declara o prof. Ivan Piçarro.



Essas técnicas modernas de mudanças genéticas possibilitarão ao atleta ganho de força e resistência. O professor Ivan cita alguns dos efeitos. "Pode aumentar a massa muscular, a força de contração, a produção de hemoglobina e hemáceas, etc. enfim, melhorar o desempenho de forma natural e espantosa."



Resultados - Entretanto, tais mudanças podem ter conseqüências letais. "Não se sabe como ligar e desligar esse mecanismo. Em ratos, isso já pode ser ligado, mas desligar é uma coisa que não é conhecida. Isso pode levar a um câncer ou não, porque estimula a produção de células inadequadas, já que o organismo não consegue reconhecê-las. Isso ainda é um risco e muito perigoso."



O dopping genético não é o doping sanguíneo. Muito utilizado nos soviéticos nos anos 70 e 80, e até na olimpíada de Moscou, o doping sangüíneo é realizado através de transfusão de sangue, com a inserção de mais glóbulos vermelhos no organismo. "O atleta treina para uma olimpíada, e dois meses antes chega ao ápice deste treinamento. Ele tira dois litros de sangue e guarda num lugar refrigerado. Um ou dois dias antes da competição, injeta novamente seu sangue no próprio corpo. Isso acelera o bombeamento do coração e mexe com a pressão arterial. Embora seja seu sangue dá alteração, porque o organismo pode rejeitar", explica o prof. Nicolau.



Para o professor Piçarro, não há fórmulas mágicas para o desempenho do atleta. "Ele precisa ser abençoado geneticamente e, ainda, treinar muito da forma correta para tentar conseguir atingir seus objetivos, sem se utilizar de métodos desconhecidos e arriscados."