Home
Sobre
Equipe
Email
Edições

  Esporte  -  Suor

 
Tamburello, tambor, tamboréu...
Esporte de DNA santista ainda é pouco divulgado internacionalmente
Por Gabriela Aguiar
Fotos: Gabriela Aguiar e Divulgação
Dia de sol em uma orla bem movimentada. O céu azul reflete no mar de águas escuras e agitadas, produzindo a sensação da imensidão. Muitas pessoas aproveitam o domingo de folga. Nas areias próximas ao mar ouve-se o som da bolinha sob a raquete de madeira.



Uma dupla de cada lado da quadra, dividida por uma rede com um metro de altura. A regra do jogo é simples: existe a zona de saque e a área onde a bola deve cair. Cada erro conta ponto para o adversário. São três sets de dez pontos cada um. Assim é o tamboréu.



Há 41 anos, a Liga Santista de Tamboréu mantém uma parceria com a Terracom e promove o Torneio A Tribuna/Terracom de Tamboréu, fazendo do esporte um dos destaques da orla santista. A idéia é incentivar cada vez mais as pessoas a praticar e valorizar o esporte amador, principalmente o tamboréu, esporte com DNA santista.



Ao todo, o torneio é composto por 75 duplas, reunindo em torno de 223 atletas na competição. O torneio iniciou no dia 26 de novembro e segue até o mês de dezembro. O A Tribuna/Terracom foi dividido em cinco categorias: "A", "B", "C", "D" e "Feminino".



De acordo com Márcio Rodrigues Alves, da Liga Santista, nesta 41ª edição, o torneio traz novidades com novas categorias. São elas: o sub-12, sub-14 e sub-16, totalizando em torno de 40 duplas.

Divulgação - Hoje a procura pe

lo tamboréu vem crescendo a cada ano, com a inserção de novos atletas ao quadro de filiados da Liga Santista de Tamboréu. Segundo Rodrigues, o incentivo vem dos pais já praticantes ou ex-praticantes da modalidade.



"Por ser um esporte amador e não muito difundido pelo Brasil, essa crescença não se torna muito acentuada em detrimento a esportes mais populares e similares ao tamboréu, tais como o tênis, frescobol e squash, mas não deixa de ser um esporte em crescimento, um dos motivos que inserimos novas categorias no torneio para incentivar a garotada."



Por influência do pai e de toda a família que é adepta ao esporte, William Fernandes começou a praticar o tamboréu aos 16 anos. "Eu só queria saber de jogar futebol, que é o que acontece com a maioria dos brasileiros até hoje", diz.



No início, Wiliam aprendeu praticamente sozinho, já que seu pai também tinha iniciado pouco antes que ele. "Passado alguns meses do início da prática, passamos a procurar por pessoas de nossa relação que já jogavam tamboréu. Foi quando acabamos entrando de sócios em uma barraca de praia no canal 1, chamada Libertário. Depois de alguns anos fiquei sabendo que no passado existiram grandes jogadores de tamboréu nesta barraca, pena que não recordo os nomes", afirma William.



William sentiu a necessidade de crescer e procurar novos desafios. Passou por mais dois clubes e atualmente joga pelo Internacional de Regatas, onde está há quase 10 anos. "O Inter me permitiu ganhar praticamente todos os principais torneios da modalidade, devido ao alto nível técnico dos atletas, e certamente foi onde eu mais aprimorei a técnica do esporte", declara.





Como atual campeão do A Tribuna/Terracom, William participa do torneio novamente para garantir o Bi-Campeonato. Atualmente ele joga na categoria A, junto com seu parceiro Fabian Pires. "Jogo com o Fabian há aproximadamente seis anos, certamente é o melhor parceiro de tamboréu com quem joquei. É um jogador que possui seis títulos de campeão brasileiro, e outros tantos de outras competições."

As regras do tor

neio funcionam da seguinte forma: depois de inscritos, pagando a taxa no valor de R25,00 mais um kilo de alimento não perecível, todos os participantes são divididos em suas respectivas categorias.



As partidas são realizadas aos sábados e domingos, e alguns feriados. A orla da praia é o palco de todas as partidas. Os horários dos jogos iniciais são às 8h15. As duplas classificadas do 1º ao 3º lugar serão premiadas com troféus e medalhas.



Na segunda rodada do torneio, Wiilian Fernandes e sua dupla Fabian Pires, viraram o jogo contra Wilson Gomes e Ed Neves, e passaram para a próxima fase, já que haviam vencido o primeiro jogo. Eles asseguraram a vaga para as semifinais e vão em busca do Bi-Campeonato. A dupla ganhou o jogo com parciais de 12/10, 5/10 e 4/10.



Destaque Internacional - Outra presença importante na competição é o atual campeão Internacional, Mauricio Ribeiro Fernandes. Ele participa desde 1981 do torneio, quando ainda fazia parte da categoria infantil. Nesta época, Maurício foi Tri-Campeão 1983/1984/1985. Já nos três anos seguintes, o tamborelista repetiu o feito, mas na categoria juvenil.



Fernandes começou a jogar tamboréu aos 10 anos na escolinha do Clube Portuários. Seu pai foi quem inaugurou a escolinha para a prática do esporte no clube.

Atualmente, ele se dedica mais ao Torneio TV Santa Cecília. "Hoje é o torneio com mais glamour no calendário do tamboréu, e tem o mesmo formato do A Tribuna, mas este ano vou fazer força, por que faz um tempo que não chego na final."

Funcionário da Indústria Química Carbocloro, Fernandes vê no tamboréu uma maneira de se divertir fora do trabalho, além de viver uma vida saudável.. "O tamboréu não me rende absolutamente nada, jogo porque gosto, e isso acontece com todos os tamborelistas que existem no País."



O tamboréu já teve seu auge, nas décadas de 60 a 80, chegando a ter 900 atletas praticantes nas competições. Já no fim da década de 80, o esporte entrou em queda. No auge, faltou uma administração que se preocupasse com o crescimento do esporte, diz Maurício. "Eles achavam que o esporte estava bom, mas todos nós envelhecemos e continuamente as administrações passavam e esqueciam da renovação. Muitos já pararam, ou até morreram, e falta molecada no esporte."



O tamborelista venceu mais de 200 torneios desde o infantil, até hoje. Dois são muito especiais para ele. O Torneio Pais & Filhos, e também o título de campeão internacional, além de ter sido considerado o melhor atleta da competição na sua categoria.



Experiência - O tamboréu é um esporte de muita história, e quem a conta é Seu Jaime, de 88 anos. Ele começou há jogar três anos após o surgimento, e ainda tem muito fôlego para praticar tamboréu. Os amigos dele até brincam: "Já separamos ternos, compramos flores, mas de plástico né, porque as de verdade já estragaram várias vezes, isso tudo pra ver se ele morre e larga do nosso pé aqui. Mas o velho está firme e forte e, jogando muito tamboréu", riem os colegas de quadra.



Para quem pensa que tamboréu é esporte de terceira idade, está muito enganado. Guilherme Mendes é um dos exemplos dos jovens no esporte e na competição. Raça, vontade e determinação, são características de seu jogo. Após vencer uma de suas partidas com apoio de seu companheiro, cerca de quarenta anos mais velho que ele, todos vibraram com a vitória inclusive seu pai e o irmãozinho que assistiam a partida.



Com o término do jogo e a liberação da quadra na praia, percebe-se que os participantes do torneio gostam mesmo do que fazem. Ficaram por lá, jogando agora por brincadeira, mesmo com um sol de trinta e cinco graus. O irmãozinho do Guilherme dominou a quadra. Esse começou desde pequenininho.



História - O tamboréu nasceu por volta de 1937, com a vinda de dois italianos, os Donadellis, que trouxeram pandeiros de aro de madeira e tampa de couro, com cerca de 35 a 40 cm de diâmetro. Ficavam jogando uma bola, um para o outro, a distâncias de cerca de 100 metros, nas praias, sem quadra ou rede.

Com o tempo vieram as quadras, com 20, 18 e por fim 17 metros, que é o tamanho atual. A rede usada a princípio era a de tênis, hoje já existem aquelas feitas exclusivamente para o esporte.



Os locais para a prática são muitos: Santos, São Paulo, Campinas, Santo André, Brasília, São Sebastião, e até a Europa. França, Itália e Alemanha são exemplos de lugares onde há a prática do "tamburello", nome dado ao tamboréu fora do Brasil.



O tamboréu não tem idade para ser praticado. De acordo com a Liga Santista, tão logo se tenha a coordenação motora apurada, pode-se dar início ao tamboréu como uma "brincadeira". O processo muda se o interesse é se tornar um atleta de competição.



"Existe a necessidade de uma técnica mais aprofundada. Como varia de atleta para atleta, de acordo com o seu biótipo, mais a facilidade em adaptar-se ao esporte, não temos uma idade padrão", diz Márcio Rodrigues Alves.

Clubes conhecidos, como o Internacional de Regatas, Fluminense, Saldanha, Benjamin Constant, Clube 2004, entre outras, fizeram a modalidade ainda mais popular na região. O grande número de clubes propiciou a fundação da Liga Santista de Tamboréu.



Além da prática do esporte nas praias, hoje o esporte se evidencia também nas quadras de saibro. Pode ser praticado na Capital e em diversas cidades do Interior do Estado, porém Santos permanece sendo a sede do tamboréu no país. Graças, principalmente, ao pioneirismo dos irmãos Donadelli e a iniciativas, como o Torneio Popular A Tribuna/Terracom.