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Sol, Boné e Raquete
Criado no século 20, no frescobol, dois jogadores interagem para que a bolinha não caia no chão. Com cumplicidade, sem rivalidade
Por Aline Monteiro
Fotos: Aline Monteiro
O barulho da bolinha na raquete estimula a dupla a girar e pular para não deixar a esfera azul cair na areia. As duplas jogando frescobol podem ser vistas constantemente nas praias. Geralmente são atletas de fim de semana, que aproveitam a brisa do mar para praticar alguma atividade física. Há quem não encare o frescobol apenas como uma brincadeira. Estes desafiam o efeito da gravidade para realmente manter a bolinha no ar, em disputas com outras duplas.

No último fim de semana de agosto, jogadores amadores, profissionais e crianças com vontade de aprender mais sobre o esporte, se reuniram na arena montada pela Federação Paulista de Frescobol FEPAF na praia do Gonzaguinha, em São Vicente. Lá aconteceu a segunda etapa do Circuito Paulista de Frescobol com atletas de Santos, São Vicente, Itanhaém, Peruíbe, Ilha Bela, Praia Grande e da capital de São Paulo. Já nos dias 27 e 28 de setembro, ocorreram as disputas profissionais na final do Circuito, nas modalidades masculina e mista, e infantil amador. Os primeiros colocados da categoria amador passaram a ser considerados jogadores profissionais, tornando-se aptos a participar de competições em torneios de outros Estados. O objetivo é construir o ranking paulista de 2008, distribuindo aos finalistas uma quantia de R 5.000, divididos por categorias e colocações.

Ainda não levado à sério - A demonstração da falta de incentivo ao esporte na região foi a finalização da Etapa Feminina Open. A dupla Cleyde São Vicente e Claudinha Santos consagrou-se no torneio simplesmente porque foi a única inscrita na modalidade. Outra categoria já definida foi a masculina-amador com a vitória da dupla Wellington e Jacó Peruíbe nas duas etapas realizadas.

Milton Vieira Santana, presidente da FEPAF, afirma que a falta de estímulo não é um problema só da Baixada Santista. "O frescobol é um esporte jovem, visto do ponto de vista organizacional. Em 2003 começamos a analisar as apresentações na busca de estatísticas para então diferenciarmos os estilos entre as duplas".

A FEPAF organiza clínicas para incentivar a prática do frescobol. "Levamos instrução para quem gosta ou não conhece o esporte. Sem deixar de trabalhar a filosofia existente no jogo", afirma Santana.

Rivais, mas companheiras - Santana joga frescobol há 23 anos, e comenta a reação do público que desconhece as regras do esporte ao presenciar um jogo. "Muitas pessoas acreditam que as duplas são rivais. Ficam indignadas quando, depois de uma seqüência forte, um dos jogadores pede desculpa por ter rebatido a bola para o outro com um lance difícil."

Poucos percebem que se uma dupla de frescobol fosse composta de jogadores rivais, a prática seria impossível, pois neste jogo o intuito não é fazer com que a bola caia no chão. No frescobol, o mérito é manter a bolinha no ar o maior tempo possível. Para Santana, o melhor do esporte é sentir a enorme satisfação de dominar com toda força e dinâmica a bolinha para passá-la ao parceiro.

Santana acredita que é o companheirismo existente no frescobol que faz com que as pessoas da Federação sejam bem recebidas nos lugares onde as clínicas são aplicadas. "A lealdade entre os jogadores pode ajudar na educação moral das crianças", afirma.

Arena Montada - As regras rígidas e diferenciadas fizeram com que a arena profissional, montada no Gonzaguinha, recebesse os jogos sob olhares atentos de pelo menos quatro árbitros. As apresentações das duplas podem durar até 300 segundos, quando não há interrupções de bolas que caem no chão, no corpo do atleta ou são tocadas erroneamente duas vezes pela raquete. O número de pontos de cada dupla é comparado com as demais, é dessa forma que as duplas se classificam.

Longe dos olhos dos árbitros, as duplas infantis despendiam raquetadas sem se preocupar com os erros cometidos ao lado da arena profissional. Uniformizadas de amarelo, as crianças da Associação dos Amigos e Moradores das Áreas Verdes de Itanhaém AAMAVI jogavam atrás da arena para evitar o olhar dos transeuntes. Jaime Roberto da Silva Andrade Júnior e Clara Novaes, de 12 e 13 anos, aproveitam a segunda etapa do Circuito para treinar. "Atrás da arena é melhor pra jogar, a gente não se desconcentra", comenta Clara, que mostra timidez até mesmo para as fotos. Júnior conta como começou a praticar frescobol. "Eu jogava futebol de salão. Um dia eu estava na praia e vi o pessoal jogando. Fiz a inscrição para a categoria infantil e treinei pouco antes da primeira apresentação." Júnior se deu tão bem com o esporte que, na primeira etapa do Circuito, garantiu o vice-campeonato na categoria infantil, e a quarta colocação na categoria amador-misto.

Brisa carioca - No ano de 1945, o frescobol começou nas areias das praias cariocas. O esporte evoluiu da prática do tênis nas praias e, como a maresia estragava as raquetes, passou-se a utilizar raquetes de madeira.

Porém, foi só em 1994 que foi realizado o I Circuito Brasileiro de Frescobol, disseminando a prática do esporte por outros estados do país. Hoje, os campeonatos mais conhecidos são disputados nos estados de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

O frescobol, embora não seja um esporte olímpico, é oficialmente considerado um esporte. Quem explica a situação do frescobol como categoria esportiva é a professora da Faculdade de Educação Física e Esporte FEFESP, Carla Luguetti. "Existem esportes de rendimento, de lazer e educacionais. A atuação em uma dessas categorias é atribuída à forma com que o esporte é praticado pelos atletas. Embora existam muitas pessoas que treinam para adquirir melhor desempenho no frescobol, a maioria ainda o pratica como esporte de lazer."