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Onde está o esporte no Litoral Norte?
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Quanto mais distante das grandes cidades, menores são os investimentos nos setores esportivos |
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Por Bruno Quiqueto |
Fotos: Bruno Quiqueto
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Em 2007, o Brasil foi sede dos Jogos Pan-americanos. Grandes obras foram feitas e promessas realizadas pelas autoridades brasileiras, mas a realidade está bem longe da que vimos pela televisão.
É só nos afastarmos dos grandes centros que percebemos à falta de investimentos no setor. Em Bertioga, um ginásio localizado no centro da cidade e a sede da prefeitura são as únicas estruturas à população. A distância e a centralização das instalações prejudicam o acesso aos treinos. Em São Sebastião, várias obras estão em andamento e algumas foram entregues recentemente, mas praias como Camburi e Boiçucanga, não possuem uma simples quadra de futebol.
Contraste - Percorrendo o Litoral Norte de São Paulo pela Rodovia Manoel Hypólito do Rêgo Rio-Santos é fácil observar o contraste. Basta olharmos os grandes condomínios, com quadras de basquete, vôlei, futebol e tênis, para crermos que nossa política esportiva está muito longe daquilo que se espera de um país que almeja sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Nos 168 quilômetros que separam a cidade de Santos a São Sebastião, não existe sequer uma pista de atletismo qualificada para treinos, e nem se pensa em ginástica olímpica.
O que se vê no litoral é um conjunto de obras e estruturas entregues há pouco tempo, como quadras e pistas de skate. "Temos um problema que é a distância entre os bairros. Procuramos atender a todas as necessidades. Praticamente cada praia possui uma área para a prática de esportes", declarou Raquel Buzi, secretária de esportes do município de São Sebastião. "Dividimos a cidade em três áreas: o Centro, a Costa norte e a Costa Sul", acrescenta. Pelas contas da prefeitura, aproximadamente cinco mil pessoas passam pelas instalações a cada mês.
São Sebastião - O complexo esportivo da prefeitura, o Centro de Apoio Educacional, é um projeto criado pelo atual prefeito Juan Garcia, que fornece aos usuários duas quadras poliesportivas, uma piscina semi-olímpica e pistas de bocha e malha. O problema encontrado pela secretaria de esportes era a falta de professores de Educação Física concursados suficientes para abranger toda a região. A prefeitura fez um acordo com a ONG AlNorte – Ambiental Litoral Norte, que disponibiliza, através do Projeto Movimento, profissionais para atuarem nos locais mais distantes.
Área diferenciada - Na Rua da Praia, a população tem acesso a duas quadras de tênis, um campo de futebol de areia, uma quadra poliesportiva e uma academia destinada à terceira idade, além de abrigar a maior pista de skate da América Latina. Também foi construído no Itatinga, bairro da Topolândia, população mais carente do município, um campo de futebol, uma quadra e uma pista de skate. "Temos que utilizar o clima da região para atrair a população à prática esportiva. A praia é um grande atrativo para esportes aquáticos como o surf e a vela", disse Raquel.
"Aqui era uma lama, uma vala. Agora está ótimo. As crianças brincam até a meia noite", comenta Sabrina, moradora da Topolândia.
Apoio bancário - Rodrigo Fontana Ventura Alves, 26, formado em Educação Física e nascido em São Sebastião, é professor de um projeto que foi implantado com o apoio do Unibanco e que cresce a cada ano, a Escola de Vela de São Sebastião. Instalada em uma área que privilegia os esportes náuticos, a instituição recebe diversos alunos. A escola também oferece salas para oficinas de consertos de barcos e cursos profissionalizantes do SENAI.
Fontana veleja desde os quinze anos de idade, quando a escola era em outro lugar, "Ia de bicicleta todos os dias. Estudava durante a semana, e nos fins de semana sempre velejava das dez até cinco da tarde. Não ganhava nem um lanche", reclama. Hoje, a escola tem capacidade para 60 alunos entre dez e quinze anos de idade. 80% destes são da rede pública de ensino. Todos ganham no mínimo uma alimentação diária.
Os cursos de vela têm duração de seis meses e os alunos que mais se destacam dentro e fora das águas são selecionados para treinos mais fortes com o intuito de disputar competições. "Todo ano pegamos pelo menos oito destaques aqui na escola. Temos até título mundial conquistado por alunos daqui", conta Fontana. Para tentar minimizar o custo dos atletas que defendem a cidade nos jogos oficiais, a prefeitura viabiliza uma verba para o transporte.
Investimentos - De acordo com a Secretaria de Esportes, foram investidos em 2007 cerca de R 10 milhões, distribuídos nas reformas e construções de espaços esportivos cobertura de quadras, CAEs e primeira piscina municipal. Neste ano, a prefeitura tem uma previsão orçamentária de R 5,4 milhões.
Segundo informações do IBGE, obtidas através do Censo 2000, São Sebastião possui 4.582 crianças residentes no município, com faixa etária entre zero e três anos. O município de São Sebastião abrange 33 praias e acomoda uma comunidade de 75 mil habitantes.
Bertioga - Com uma população aproximadamente de 31 mil habitantes, a situação é bem diferente em Bertioga. O departamento de esportes é administrado no ginásio do centro da cidade, a única instalação pública do município, que recebe modalidades como futebol de salão, vôlei e karatê. "A quadra não possui marcação para a prática de basquete. Como pode o pessoal pintar uma quadra e esquecer das linhas do basquete? Depois querem que a gente ensine de que jeito? Nos jogos estudantis do município a modalidade não é nem disputada", reclama Diogo Chimente Orlando, professor concursado da rede Estadual Escola Belegardi de Ensino de Bertioga. O professor cita que o restante das quadras está nas escolas e só algumas são cobertas.
Segundo o educador, há falhas na administração esportiva da cidade. "O vôlei é só para terceira idade, o handball é praticado no período da tarde, quem estuda no mesmo período não pode treinar. O futsal é que tem todo respaldo". Já para Silvio Cesar Brás, o "Cabeção", professor de Educação Física contratado pela prefeitura de Bertioga, a deficiência está na continuidade das crianças na prática esportiva. "Quando a criança sai da quarta série para a quinta, ela perde o direito de freqüentar a piscina, aí é que se perde o estímulo para o esporte. Temos que aproveitar tudo que a região oferece". Brás ensina os estudantes da primeira à quarta série a nadar. "Atendemos duas mil crianças aqui. Deveríamos ter pelo menos mais duas piscinas dessas e descentralizar as instalações. Todos os bairros deveriam ter quadras apropriadas", comenta o professor.
Escola sem esporte - Os alunos do ensino fundamental da rede municipal de Bertioga não possuem Educação Física na grade escolar, sendo a natação semanal o único incentivo esportivo para as crianças. São os próprios professores da rede de ensino que auxiliam na educação física. "Com todo respeito aos professores, eles não estão qualificados para isso", declarou Brás. Na sede da prefeitura estão localizadas as instalações para a prática de jiu-jítsu, boxe e a piscina semi-olímpica.
A prefeitura tenta suprir essa ausência de incentivo, transportando as crianças para a prática de natação na piscina construída no paço municipal, onde a equipe de professores esportivos é terceirizada.
Nocaute na falta de estrutura - Treinados pelo professor que prefere ser chamado apenas pelo apelido de "Didi", os alunos de boxe de Bertioga possuem uma sala de treinamento e um ringue para que possam realizar algumas lutas. Didi, também técnico da seleção feminina do Brasil, promove um trabalho voluntário na cidade e tem mais de 60 alunos. Sua equipe feminina foi a terceira colocada no último campeonato mundial e seu centro de boxe é o único da região do litoral norte. "As portas estão abertas para todo mundo. Além do boxe, o aluno aprende muita coisa comigo", declara Didi, que lutou 300 vezes, conquistando 266 vitórias por nocaute, um empate e apenas uma derrota. "A gente fica chateado porque falta mais apoio dos caras políticos por aqui".
Descaso - Apesar de alguma melhora, é claro o descaso com o esporte em toda região. O número de crianças e adolescentes que se envolvem com drogas é muito grande. Vários professores e voluntários tentam realizar um trabalho que venha a gerar resultados de alto nível. Um país que almeja obter bons resultados em competições de prestígio não pode se dar ao luxo de deixar uma enorme área sem um único centro olímpico. O que se vê é a falta de estímulo à prática esportiva, e a degradação de uma juventude com um enorme potencial.
Serviço - A Secretaria de Esportes SEESP de São Sebastião localiza-se na Rua Euclides de Mattos, 220, no bairro Varadouro. Telefones 12 3892-6257 e 3892-2062. E-mail: seesp@saosebastiao.sp.gov.br.
A Escola de Vela de São Sebastião fica na Avenida Manoel Hipólito do Rego, 210, Praia Deserta, São Sebastião. Telefone 12 3892-2106.
Já a Prefeitura de Bertioga fica na Rua Luiz Pereira de Campos, 901, Vila Itapanhaú. Telefone 13 3319-8000.
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