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Energia represada
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Horas na frente da Internet afetam a saúde. Procure games do bem. |
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Por Aline Monteiro |
Fotos: Dreamstime
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Dizem que criança saudável é aquela que dificilmente pára por mais de cinco minutos em um lugar da casa. Existe um consenso de que elas possuem energia de sobra, e precisam gastá-la de alguma maneira. Mesmo assim, muitos pais permitem que os filhos permaneçam horas seguidas vendo televisão, jogando videogame ou acessando a internet.
Partindo do princípio que equipamentos tecnológicos exercem influência no cotidiano de jovens e crianças, uma lei que proíbe o uso de telefones celulares em instituições de ensino foi aprovada no ano passado. Na escola, esses aparelhos recebem a culpa de distrair os alunos e auxiliar na prática da tão conhecida cola. Para alguns pais, os jogos, a internet, Ipods e Mp3 players tornam a criança mais preguiçosa, afastando-a da prática de atividades que envolvem mais movimentos.
Daniel Vítor caminha da sala para o quarto. Na sala se encontra o videogame e no quarto, o computador. A maioria das vezes em que ele se dirige ao portão é para buscar um colega, que o acompanha nas partidas de videogame. Daniel tem 10 anos e o Ipod passa a maior parte do dia pendurado em seu pescoço. O garoto não se anima ao ver uma bola. "Não gosto de futebol, prefiro vôlei. Mas, se alguém me chamar pra jogar videogame, eu gosto mais." Os pais de Daniel trabalham durante todo o dia. Jane cuida dele e da irmã, e tenta sem sucesso manter o garoto distante dos games durante o dia.
José Luiz Gonçalves Oca é professor universitário na disciplina de Educação Física Escolar e Recreação, além de ministrar aulas de Educação Física para alunos da 6ª série do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio, em uma escola particular. Ele afirma que onde trabalha não existem problemas em fazer com que as crianças pratiquem exercícios físicos. Primeiro porque os métodos utilizados pelos professores e a companhia dos colegas não dão oportunidade para um "não", nas quadras escolares. Depois, porque os celulares e aparelhos eletrônicos ficam bem longes, desligados e guardados nas mochilas.
Nas escolas públicas a realidade é um pouco diferente. A professora de Educação Física, Beth Faro, é responsável pelas aulas em uma escola estadual de Ensino Fundamental em São Vicente. Ela afirma ter dificuldade de convencer os alunos a desligar os aparelhos eletrônicos para se dedicar às aulas. "Geralmente eles passam a maior parte do tempo trocando músicas nos celulares, poucos se empolgam para praticar as atividades desenvolvidas em aula."
É difícil ver crianças de 2 a 13 anos recusar a prática de alguma atividade esportiva. Nessa fase, a curiosidade e a energia que possuem fazem com que elas aceitem praticamente tudo o que lhes é proposto. A dificuldade em fazer os pequenos se exercitarem surge quando termina o período escolar. Com o passar dos anos, os espaços que possibilitavam a reunião de crianças para brincar em segurança foram desaparecendo, e estas precisaram se adaptar às brincadeiras que cabiam em seus pequenos apartamentos. Ou, com o aumento da violência nas ruas, passaram a brincar dentro de suas casas. Acostumadas com brincadeiras que não usam o movimento como principal atividade, elas consideram um sacrifício fazer exercícios físicos.
Fora de casa e da escola - Existem programas que oferecem atividades esportivas para crianças fora do horário das aulas. A prefeitura de Santos possui o projeto Escola Total, que desenvolve cursos nas áreas de cultura, artes e esportes. Os alunos se inscrevem na própria escola, e inicialmente, a prioridade é dada para aqueles que ficam sozinhos em casa devido ao trabalho dos pais. Onze núcleos estão espalhados por Santos, oferecendo aulas de dança, teatro, música, artes plásticas, artesanato, judô, capoeira, voleibol, basquete, handebol e futebol de salão.
O Centro Turístico Esportivo e Cultural é um dos núcleos do programa localizado no Morro São Bento. Lá, o estagiário de Educação Física, Felippe Silveira, dá aulas de futebol de salão e voleibol. Ele comenta que alguns pais não se interessam em encaminhar os filhos à prática das atividades. Mas, ressalta que nem sempre as crianças deixam de participar por esse motivo. "Existem casos em que o Centro Esportivo mais próximo ainda é distante. Como os pais estão trabalhando, ficam com medo de mandar as crianças sozinhas."
O Núcleo do Morro São Bento possui uma sala de informática com nove computadores, aberta em horários reservados para livre acesso à internet pelos alunos. Felippe conta que muitas crianças gostam de freqüentar a sala após as aulas. "Algumas tentam navegar no horário em que deveriam estar nas quadras, mas sempre faço uma busca na sala antes de começar o jogo."
Bom senso - As experiências motoras das crianças são prejudicadas quando deixam de ser desenvolvidas nos primeiros anos da infância. Os movimentos são os principais responsáveis nas primeiras interações da criança com o mundo. Na escola, por exemplo, as aulas de Educação Física são fortes aliadas no processo de alfabetização. Noções de direita e esquerda e de escrever sobre as linhas do caderno, são conceitos transmitidos de forma prática nas atividades dessas aulas.
O excesso de jogos e internet é tão perigoso quanto à cobrança exacerbada na prática esportiva. Os exercícios direcionados às crianças podem ser praticados diariamente, mas é necessário atentar à intensidade e à maneira com que os responsáveis pelo monitoramento dessas atividades estão trabalhando. "A criança deve brincar, e cobranças quanto às técnicas e competições podem ser atribuídas erroneamente, causando o desinteresse da criança, senão imediatamente, quando esta começa a entrar na adolescência", diz Oca.
Um game aliado - Partindo do princípio de que o importante é se movimentar, os pais que têm dificuldade em fazer com que os pequenos saiam da frente dos videogames para praticar brincadeiras que estimulem exercícios físicos têm uma alternativa. O Wii, game lançado pela Nintendo Company em 2006, nos Estados Unidos, trabalha a interação entre a máquina e o usuário.
O console, que se destacou entre os concorrentes, Playstation 3 Sony e Xbox 360 Microsoft Corporation, custa a partir de R 1.200,00 e, é distribuído com o Wii Sports, CD com cinco jogos de gêneros esportivos. Tênis, boliche, boxe, golfe e basebol pedem que o usuário realize movimentos dos esportes para controlar os sensores Wii Remote e o Nunchuk. A tecnologia Wireless sem fio é a responsável por essa interação, vista como diferencial entre os concorrentes.
Renato Bressan e Letícia Perani desenvolveram um artigo que usa o Nintendo Wii como exemplo de uma nova tendência que passa a diminuir o uso de interfaces físicas, privilegiando o contato direto do corpo com as mídias nos processos de comunicação. Perani acredita que essa interação pode levar crianças, adolescentes, e até mesmo adultos sedentários, à prática de esportes e a um maior convívio social. "Com o Wii, as pessoas fazem exercícios sem notar. É uma maneira lúdica de colocar as pessoas para se movimentar." Para ela, o convívio social está previsto na proposta do Wii, que pode ser entendido como uma corruptela de we, nós em inglês.
Para Bressan, o jogo ajuda no incentivo à prática de esportes e na melhora das relações pessoais, mas ele acredita que fatores como meio social, características genéticas, conteúdo dos jogos e bagagem cultural são mais relevantes em um processo de mudança de hábitos ou na formação de uma pessoa.
Para Oca, o Wii é favorável para a criança, que usa a percepção visual e interage com os jogos por meio do movimento, trabalhando aspectos motores e cognitivos.
O mundo é uma grande bola - Para os mais preguiçosos, a primeira tentativa é oferecer uma bola e espaço para evitar acidentes. "Os olhos de uma criança brilham quando vêem uma bola", diz o professor Oca. Para ele, um dos principais motivos é a cultura do futebol no país que mostrou o rei Pelé para o mundo. Mas, não é só o futebol que ganha essa disputa de levantar do sofá os mais preguiçosos. Voleibol, futsal, queimada e até mesmo as bolinhas de gude, para os mais velhos, encantam.
Independente do esporte, o movimento é o aspecto mais importante na fase infantil, é ele quem inicia a interação da criança com o mundo.
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