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Esporte - Tônus
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Rugby: atitude para cavalos e cavalheiros.
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Esporte pouco popular no Brasil, é visto como violento para alguns, mas para os especialistas e jogadores do rugby, existe muita disciplina. Quando perguntamos: |
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Por Jeifferson Moraes |
Fotos: Jeifferson Moraes
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A expectativa entre a torcida é grande para o começo da partida. Todos os jogadores estão perfilados em suas posições, aguardando o chute inicial. Ouve-se o som do apito do juiz e a bola é lançada ao alto em diagonal. Percorre um trajeto na forma de uma parábola invertida, sobe depressa ao céu, e por alguns instantes, até parece flutuar.
Logo retoma uma descida veloz, e antes do toque ao solo, Tico pega a bola firmemente entre seus braços. Corre para o ataque, após exatos cinco passos, recebe a interceptação do adversário que propositalmente choca-se ombro a ombro. Com a força do impacto seu corpo chega a ficar suspenso no ar por alguns instantes, e com rigidez, o oponente segura seu quadril com as duas mãos até caírem ao chão.
Tico levanta como se nada tivesse acontecido, o mesmo faz o jogador adversário, para que o jogo tenha continuidade. Elisa Boin é a única mulher em campo e curiosamente é chamada de Tico pelos amigos, os mesmo que a incentivaram a participar do 1º Torneio de Rugby Touch de Campinas. Por se tratar de um torneio amistoso as regras aceitam times mistos, de ambos os sexos.
Mas, mesmo em jogos oficiais há lugar para todos os tipos de jogadores, sejam eles altos ou baixos, magros ou gordos, homens ou mulheres.
Rugby para todos - Elisa joga rugby desde maio de 2007 e conheceu o esporte através da UNICAMP, universidade onde estuda engenharia civil. Jovem, com 21 anos, sem perfil atlético, mas com corpo forte e silhueta atraente, pele morena, cabelos pretos e longos, amarrados como uma trança para facilitar os movimentos. Ela se destaca com destreza nas jogadas que executa entre os homens. Afirma que o esporte não é exatamente o que parece.
Quando recebeu o primeiro convite para jogar sentiu medo e receio. Pouco sabia sobre o esporte e ficava impressionada com as freqüentes "jogadas violentas". Depois que acompanhou algumas partidas na universidade, passou a ter outra idéia sobre o esporte e tomou coragem para treinar com outras jogadoras. Logo estava participando dos torneios e campeonatos regionais. A paixão pelo rugby começou a crescer. Ao ser questionada se não tinha medo de jogar com outros homens, até mesmo pelo rigor físico, com risco de se machucar, ela responde "que esse risco é pequeno". Esclarece que seus treinamentos servem exatamente para suportar os impactos previstos no rugby. "Por ser um esporte de contato, o rugby tem a fama de ser violento. Mas, se praticado de acordo com as regras e com as técnicas corretas, o risco de lesão diminui bastante."
O treinamento da Tico foi iniciada na universidade com o professor de educação física, Carlos Javier Pazos, 46 anos, que também é técnico especialista em rugby. Carlos treina o time Jequitibá de Campinas, e está preparando seus jogadores para o principal evento do ano, o Campeonato Paulista do Interior. A sua experiência adquirida na Argentina, seu país de origem, coloca-o em uma posição privilegiada entre os principais especialistas do rugby no Brasil, onde o esporte é pouco popular. Ao contrário dos argentinos que participam do campeonato mundial e ocupam a terceira posição no ranking mundial da International Rugby Board IRB, órgão internacional que rege pelo esporte no mundo. O Brasil ocupa a 33º posição no ranking mundial.
"No futebol são cavalheiros jogados por cavalos, e o rugby é um jogo de cavalos jogados por cavalheiros." Ele cita uma alusão a uma provável transformação de personalidade entre os integrantes de um jogo de futebol, quando parecem se tornarem pessoas mais abruptas aos adversários. Pazos fez questão de comparar o rugby com uma pelada brasileira – partida de futebol na gíria futebolística. Talvez por ser o esporte mais popular do País. Se fosse nos EUA a comparação poderia ser com o futebol americano, que é muito diferente do rugby.
Segundo ele, como qualquer outro esporte, o risco de lesão existe. Mas, acredita que "no futebol esse risco é maior, porque existem jogadores mal intencionados e isso é inibido no rugby".
A disciplina é prioridade para os praticantes e o rugby também exige o preparo de seus jogadores, pois, o esporte permite o contato.
Origem do Rugby - Não existem registros oficiais do aparecimento do rugby no mundo. Muitas lendas fazem parte da história do surgimento do esporte. A criação é atribuída a um jovem estudante, William Webb Ellis, de uma universidade de Londres.
Em 1823, na Rugby School, que gerou o nome ao esporte, Ellis em uma partida de futebol teria segurado as bolas com as mãos e subitamente correu em direção aos seus colegas que tentaram lhe agarrar por várias tentativas sem sucesso, e inconscientemente o jogo estaria criado.
A doutrina do esporte rege pelo desenvolvimento em grupo, as rivalidades com atitudes anti-desportivas são banidas.
Existe a expressão "terceiro tempo", que se refere a tradicional confraternização dos jogadores. No Brasil o rugby pode ter sido introduzido por Charles Miller, que teria organizado, em 1895, o primeiro time de rugby brasileiro, na cidade de São Paulo.
Segundo a Associação Brasileira de Rugby, o esporte começou a ser jogado regularmente no Brasil em 1925, no Campo dos Ingleses, do São Paulo Athletic Club, em Pirituba. Com a Segunda Guerra Mundial, houve um recesso e os jogos retornaram apenas em 1947.
Rugby Santista - Em Santos existe um time que treina todas às segundas, terças e quintas-feiras na praia, em frente à avenida Conselheiro Nébias. Também realizam partidas no clube Portuários de Santos e na pista de pouso de asa delta, na praia, em São Vicente.
Os organizadores mantém um site, www.rugbysantos.com , com os últimos resultados de jogos amistosos e campeonatos. O Rugby Santos forma times para homens e mulheres.
Bárbaros e Gentis - É comum ouvir o juiz se dirigir aos jogadores com palavras educadas, como: senhor e por favor. Os jogadores não podem reclamar com o juiz e somente o capitão de cada time pode falar e deve se dirigir ao juiz como "senhor". Qualquer exaltação é contida com punições como a expulsão. E no terceiro tempo, como é chamada a confraternização que é sempre realizada com todos os times após as partidas, é o momento de deixar as diferenças de lado e fazer novos amigos. Peculiaridades desse esporte bretão.
Elisa revelou que já se machucou e chegou a ficar três meses sem jogar. Sua inexperiência em uma jogada mal executada, fez com que caísse sobre o ombro e as costas, que acabou machucando sua coluna. "Nada grave, só um susto, que me deixou mais experiente." Para Pazos, as lesões mais comuns são nos joelhos e nos ombros.
Para proteção, recomenda-se o uso de protetores para as orelhas, boca e ombros. Como na maioria dos esportes competitivos, a saúde física do atleta pode ser comprometida. Mas existem benefícios que o rugby pode desenvolver. A locomoção constante e os exigentes treinamentos físicos servem como uma academia para seus praticantes, que chegam a perder 500 a 900 Kcal/h, dependendo da intensidade do treino.
Pazos salienta que o rugby, por ser um esporte pouco conhecido no Brasil, propicia a prática informal, que coloca em risco os jogadores. Por isso, é fundamental praticá-lo em instituições que desenvolvam um trabalho sério e competente.
Antonio Figueiredo, 38 anos, publicitário e jogador de rugby há 10 anos, acha que é um esporte muito seguro. "Já pratiquei muitos outros esportes, e posso contar diversas vezes quando me machuquei. Pratico montain bike e já cheguei a fraturar os ossos e quebrar os dentes. Mas, no rugby nunca me machuquei."
O fisioterapeuta e professor de rugby, Flavio Santos, em entrevista ao portal Terra, na internet, explica que "em países da Europa e nos Estados Unidos, é um esporte ensinado nas escolas, e incentiva o trabalho em equipe, a disciplina, a lealdade e o respeito à hierarquia". Ressalta que o rugby feminino é o esporte que mais cresce no mundo, atualmente. Parece que este é o momento do rugby. O número de praticantes aumentou significativamente durante os últimos anos, conforme é divulgado por entidades do esporte no País. A seleção brasileira feminina de rugby se classificou para a Copa do Mundo 2009, a ser realizada em Dubai. Feito histórico nunca ocorrido antes, que colocou o Brasil na liderança da América do Sul.
O rugby é um dos esportes mais populares do mundo, só perde audiência para a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas, é o que afirma o IRB. Até Charles William Muller, considerado o pai do futebol, escreveu em seu livro os princípios das regras do rugby. Que é considerado uma versão modificada do futebol que conhecemos. Conta a lenda, que um jogador em um momento de fúria, segurou a bola com as mãos e percorreu todo o campo sem que ninguém conseguisse pegá-lo. Sua intenção até seria de acabar com a partida, mas o feito virou um novo jogo na Inglaterra que passou por reformulações até alcançar o seu formato atual.
Se o rugby é violento? Menos ou mais perigoso que o futebol? Isso caberá ao seu julgamento. Mas antes de qualquer pensamento discriminado, assista a uma partida de rugby. E, para os mais corajosos, brincadeiras à parte, podem até participar de uma iniciação. Trata-se de um esporte sério e muito difundido. Para milhares de pessoas no mundo inteiro, é o esporte preferido.
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