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A febre dos mangás
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Para alguns fanáticos, os quadrinhos japoneses representam muito mais do que meras histórias. É um modo de obter cultura |
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Por Gabriella Leutz |
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O estudante Guilherme Borges, de 18 anos, assume que é fissurado por mangás. Ao explicar esse fascínio, principalmente pelos gibis, ele diz que com a arte criativa dos japoneses se pode aprender muitas coisas. Por exemplo, sobre outras culturas e épocas. “Boa parte dos mangás se passa no próprio Japão de hoje. Em cidades conhecidas como a capital Tóquio, Kioto e Kanto. Os quadrinhos também abordam as lendas, crenças e até mesmo a música. Gosto muito dessas coisas sobre o Japão”, ressalta.
Foi aos 11 anos que Guilherme conheceu uma revistinha de mangá. Algo totalmente diferente do que estava acostumado a ler, como os gibis do Pato Donald. Outra coisa que fascinou o estudante foi o modo como se lê esse tipo de revista. “Um manga se lê de trás para a frente. E na página, se lê as falas da direita para a esquerda. Mesmo adaptado para outros países, essa característica do mangá foi mantida”. Logo, Guilherme não conseguia mais parar de ler.
O que mais o impressionou é que ninguém entendia o seu interesse pelas histórias em quadrinhos, até que convenceu alguns amigos a irem a uma exposição promovida por dois proprietários de coleções de gibis japoneses, Marcus Lima e Renato Souza. Eles montaram a exposição no quintal da casa de um deles, em São Paulo. Guilherme conheceu-os e resolveu levar os amigos à exposição: ”Os meus amigos viviam me criticando. Diziam que eu não sabia fazer nada a não ser ler aqueles gibis sem sentido algum que, ainda de quebra, eram lidos de trás para frente, uma coisa de maluco. Mas depois que eles tiveram contato com os mangás na exposição, hoje são leitores confessos”, conta Guilherme, se divertindo.
Dono de uma banca de jornal no Guarujá, Edmundo da Silva diz que o seu lucro aumentou após o sucesso que os mangás fizeram. Crianças e jovens são os principais leitores e compradores dos gibis. Em algumas ocasiões, ele teve de fazer mais pedidos às distribuidoras por causa da venda rápida e imensa dos gibis. Isso sempre ocorre depois dos gibis lançados com histórias novas, sempre em capítulos semanais. “É aí que os clientes não param. Vêm sempre no mesmo dia e na mesma hora atrás do número novo do gibi, pois não agüentam de curiosidade para saber a continuação e o desfecho daquela história”, conta.
O jornaleiro Edmundo da Silva confessa que por ver tanto interesse por esse tipo de gibi, já parou para ler e assume: “Não sabia que algo de fato tão infantil, tão supérfluo, poderia nos prender tanto a atenção”. Ele acha que quando o público conhecer ainda mais esse tipo de gibi isso terá reflexo no interesse maior pela cultura japonesa: “As pessoas vão conhecer o quanto e rica e interessante é essa cultura”.
Olhos grandes - O mangá começou realmente a ganhar força depois de 1967, apesar de já existir há mais de 1.500 anos. O grande mestre dessas histórias em quadrinho é Osamu Tezuka. Foi ele quem criou as características que permanecem até hoje nos mangás. Professor dos cursos de Publicidade & Propaganda e de Multimídia da Universidade Santa Cecília, Alexandre Bar diz que os olhos grandes que os personagens de mangás têm foram criados por Tezuka: “Mas é óbvio que isso é um clichê. Os personagens de mangás, necessariamente, não precisam ter esses olhos grandes. Hoje, em muitas dessas historias os personagens já têm olhos normais. O que ocorre é que se criou o mito de que todo o mangá, obrigatoriamente, tem de ter esse estilo de olho. Mas o próprio desenhista Tezuka criou personagens que tinham olhos normais”.
O uso dos olhos grandes era para dar mais expressividade aos personagens e também levava em conta quando as imagens fossem em preto-e-branco, isso para destacar e chamar atenção dos leitores. Outra característica que Bar aponta é que esses quadrinhos são publicados em capítulos. Conforme a aceitação do publico é que a história terá ou não continuidade. “Isso é o que instiga mais o leitor fanático. Muitas vezes, se não todas, as histórias dos mangás são inspiradas nos desenhos animados japoneses, os animes”, explica o professor.
O advogado Sócrates Moura, de 28 anos, teve o primeiro contato com o mundo dos mangás em 1994. Ele já era um leito assíduo de comics, os gibis americanos. Logo de cara, a primeira diferença notada pelo advogado nos mangás em relação aos outros tipos de gibis foram os olhos grandes. Sócrates diz, no entanto, que com a continuação da leitura dos mangás reparou que os personagens eram muito mais profundos e sentimentais. “Os guerreiros urravam, clamavam, choravam e riam com uma intensidade até então nunca vista por mim!
Tamanha intensidade foi arrebatadora: se os personagens estavam zangados, todo o cenário interagia com a sua fúria e as cores de fundo se tornavam avermelhadas. Se estavam tristes, lá vinha a melancólica música de fundo. Se estavam felizes, o traço se tornava infantil e caricato”, exalta Sócrates.
Depois de Cavaleiros do Zodíaco, o precursor dos mangás no Brasil, muitos outros quadrinhos japoneses foram surgindo, divididos em estilos diferentes: o shoujo, que é conhecido como o mangá para meninas o fushigi yûgi e o shounen, conhecido como o mangá para meninos o Dragon Ball Z. Ambos os estilos conseguem fazer sucesso e prender a atenção de seus leitores do começo ao fim.
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