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A Imigração do Amor
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O neto de japoneses Jorge Aragusuku aceitou o desafio quando se uniu à brasileira descendente de portugueses, Sonia Regina de Souza. Qual o desafio? Superar o choque cultural. Outros casais passaram pela mesma experiência |
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Por Andressa Ramirez |
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O descendente de japoneses Jorge Aragusuku e a brasileira Sonia Regina de Souza estão casados há 22 anos. “O fato de virmos de culturas diferentes só tornou o relacionamento mais gostoso. Tivemos de aprender a lidar com as diferenças do outro”, diz Sonia Regina. Eles têm dois filhos: Yugo Mateus, de 21, e Juliano Akira, de 19.
Aos domingos, enquanto muitas famílias se reúnem em torno da macarronada, os Aragasuku preferem o yakisoba, uma mistura de macarrão, legumes e carne. “Mas a Sonia gosta mais do que eu de comida japonesa!”, brinca Jorge Aragusuku.
Na religião, a família mantém a tradição dos avós de Aragusuku na prática do budismo como filosofia de vida. Isso apesar de Sonia Regina ser católica. Jorge Aragusuku diz que a preservação da cultura nipônica se dá pelo fato de seus avós serem descendentes da região de Okinawa, cujo povo prezava — e ainda preza — a preservação de seus valores. “Tento passar isso para os meus filhos e para minha esposa”, diz.
Os filhos do casal mantêm traços marcantes da cultura japonesa: a concentração, a timidez e o gosto pelas tradições. Ambos fazem questão de estudar a língua japonesa. Exemplo de que não esquecem de suas raízes foi o evento que Yugo Mateus, o caçula, participou em comemoração à imigração japonesa: o São Vicente Kyowa Taiko. Na ocasião, ele tocou taiko um tambor japonês durante as apresentações de danças típicas. O filho mais velho do casal. Juliano Akira, está cursando Relações Internacionais na Unesp e sonha fazer pós-graduação no Japão.
Jorge Aragasuku diz que os japoneses evitavam se relacionar com pessoas de outras raças, mas só nos primeiros anos da imigração: “Os que vieram para o Brasil não queriam que os filhos se relacionassem com brasileiros, isso porque eles tinham intenção de retornar ao país de origem. Mas quando perceberam que não voltariam mais, aceitaram o fato de seus filhos e netos se relacionarem com brasileiros”.
Exemplo de que os japoneses não têm esse tipo de preconceito atualmente é a família de Aragusuku. Dos seus sete irmãos, cinco escolheram subir ao altar com brasileiros. “Somos racistas ao contrário”, brinca Jorge Aragasuku, ao se referir ao fato de nenhum de seus irmãos ter escolhido um descendente nipônico para se relacionar.
Paixão na Liberdade - O bairro da Liberdade, em São Paulo, é um cenário que caracteriza bem o quanto a cultura japonesa se inseriu na brasileira. Esse cenário foi palco para o amor de Dina Shizve Chiba e Wagner Pérpetuo.
Aos 20 anos, ele fazia faculdade de Administração e sempre se interessou muito pela cultura nipônica. Por esse motivo, gostava de freqüentar o bairro da Liberdade, principalmente os restaurantes típicos. Foi quando Dina, filha de japoneses, que fazia um curso de cabeleireiros na Rua da Liberdade. Na época, ela estava com 18 anos e despertou imediatamente o interesse de Perpétuo. Logo, começaram a namorar.
Ele não demorou para ser aceito pela família da namorada, isso por causa de seu jeito expressivo e comunicativo, o que, segundo Dina, os japoneses adoram. Ela diz também que os seus pais não acharam nada estranho o fato dela estar namorando um brasileiro. “Nada mais comum do que eu namorar e casar com algum brasileiro, pois eu e minha família morávamos no Brasil e não no Japão”.
Dina e Perpétuo não demoraram para se casar. Hoje, juntos há 21 anos, têm duas filhas: Francine e Raffaela Heiko. A família morou durante um ano no Japão, o que facilitou ainda mais para que os hábitos japoneses fossem incorporados à vida das filhas e do marido. “Ter morado no Japão durante um ano foi uma grande experiência. Além de conhecer a cultura dos nossos antepassados, pudemos aprender o dialeto do país das nossas origens”, conta Francine Heiko.
Atualmente o casal retornou ao Japão, onde ficará por dois anos, para poder pagar a faculdade de Francine, que cursa medicina. Segundo as filhas do casal, a tradição japonesa sempre esteve presente na vida da família.
Juntos há 35 anos - Sílvia Peixoto e Mário Toyama tiveram que enfrentar muito preconceito para conseguirem ficar juntos. Eles se conheceram em São Paulo, na Rua Barão Duprá, próximo à Rua 25 de Março, onde Silvia trabalhava em uma loja japonesa de artigos de festa. Toyama, que morava ali perto, fazia uns bicos na loja.
O namoro durou oito anos, entre idas e vindas, por causa das brigas causadas pela pressão que os pais de Toyama faziam, para que não namorasse uma brasileira. Ele lembra que quando foi contar ao pai que tinha decidido se casar: “Tinha tanto medo da reação do meu pai, que pedi que a minha irmã mais velha fosse comigo”.
A atitude do pai não foi diferente do começo do namoro. Ele se recusou a ir ao casamento e disse que se o filho fizesse isso exigiria que tirasse o sobrenome japonês do nome. Toyama não atendeu à solicitação do pai. Continuou com o sobrenome, mesmo porque sabia que um dia esse ódio ia passar. “O pai de Toyama sempre foi uma pessoa muito preconceituosa, não somente em relação aos brasileiros, mas a qualquer raça que não fosse a japonesa”, conta Silvia. Ela acha que esse preconceito ou trauma se devia ao fato de ele ter participado da Segunda Guerra Mundial e ter ódio dos americanos e, consequentemente, dos brasileiros.
Mas o casamento se realizou. O pai de Toyama só passou a aceitar o relacionamento depois que o casal teve a primeira filha, Viviane, mas logo depois veio a falecer. Sílvia e Toyama estão casados há 35 anos e têm duas filhas, Viviane e Simone.
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