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Graças a Zeus!
O personagem principal dessa história é Zeus, um cão da raça labrador, de cor bege, de seis meses, dócil, de 27 quilos e treinado especialmente para esse serviço
Por Colaborador
Para ajudar na recuperação de garotos e garotas, o labrador Zeus passou por um treinamento de obediência para inibir o vício de pular nas pessoas, latir e não puxar, principalmente pelo fato de o público-alvo do projeto ser composto de crianças. "É um trabalho gratificante”, diz o adestrador, o tenente da Polícia Militar Valmir Martins Vasquez.

Zeus foi doado para o projeto e acompanhei no ano passado o seu primeiro dia de trabalho. Antes de entrar no hospital, o cão é higienizado com uma bactericida para não trazer nenhum tipo de doença ou contaminação para os pacientes que terão contato com ele. Na Pediatria do SUS, na Santa Casa de Santos, as crianças o aguardavam com ansiedade.

A expectativa começa durante o período matutino quando os pacientes recebem a notícia da visita do cachorro. Neste momento, as crianças respondem um questionário para avaliar o seu estado emocional. Após a visita, elas respondem o mesmo questionário com as mesmas perguntas e a partir daí é possível mensurar a diferença do estado emocional da criança.

"Antes da visita do cachorro, a criança estava mais chorosa, triste, temerosa, agora ela está mais tranqüila, mais segura, mais disposta. Isso se reflete no tratamento. O cachorro traz um estímulo", explica a psicóloga da Santa Casa de Santos, Silvia Mara dos Santos. Para ela, o resultado tem sido positivo: "O ambiente hospitalar é muito triste e a vinda do Zeus traz alegria".

De setembro a outubro de 2006, foram atendidas na Santa Casa aproximadamente 160 crianças e 85% delas responderam positivamente ao questionário. "A rotatividade é um fator negativo, portanto, o dado que temos é que, naquele dia, o lado emocional da criança fica mais apurado, ela fica menos sensível ao ambiente dolorido do hospital. Eu vejo que os pais ficam até mais felizes que as crianças", diz Silvia Mara. "O contato da criança com o animal, faz com que elas esqueçam um pouco da doença, ajudando na recuperação". Ela relembra o dia em que um garoto recém saído da UTI saiu correndo ao ver o cachorro: “O meu grande sonho é poder levar o Zeus para a ala dos adultos".

Na Pediatria, em poucos minutos, Zeus estava cercado de crianças. Vitor Anjos de Souza, de 1 ano e cinco meses, ficou internado durante duas semanas com pneumonia. Segundo a mãe, Claudineia dos Anjos Souza, ele não gostava de ficar preso no quarto e com a visita de Zeus, Vitor ficou mais alegre e se divertiu um pouco.

Júlia Maria Pereira do Nascimento, de 6 anos, ficou internada por seis dias na Pediatria com suspeita de estar com um tumor na bexiga. Minutos antes de Zeus chegar, a mãe Francisca Moreira Lima disse que Júlia estava chorando de dor e se recusava a ser transferida sem ver o cachorro. "Quando o Zeus apareceu, eu gostei", disse Júlia. Para a mãe, o contato entre a criança e cachorro "é uma coisa pura e divina”. “A visita dele fez com que a Júlia esquecesse a dor. Eu recomendo!", disse dona Francisca.

A próxima parada de Zeus foi ao setor dos conveniados e a primeira visita foi para Maycon Caldas Mariano Felix, de 5 anos, que acordou feliz com a visita do cachorro. Mas ao responder a pergunta do tenente Vasquez se gostaria de ver Zeus novamente, ele foi categórico: "Quero ir para casa!"

Edinaldo Calisto Rodrigues, de 13 anos, que nasceu com duchene — uma doença que compromete a parte motora — estava internado na UTI. A irmã Elaine Calisto Rodrigues disse que o cachorro ajudou muito a melhorar a auto-estima de Edinaldo e relembra que no dia em que Zeus não fez a visita semanal por ter tomado vacina, ele ficou triste.

Para Sílvia Mara, o caso de Edinaldo é o mais interessante pelo fato dele viver em isolamento. "O animal é a notícia que vem de fora, é a relação dele com o mundo, portanto é importante ele saber que tem uma vida lá fora, ter essa expectativa e sonhar", avalia a psicóloga.

Descontração para os adultos

De acordo com a psicóloga, existem duas correntes para este tipo de tratamento: uma que não entende e não aceita o cachorro dentro do ambiente hospitalar por questões de higiene. E a outra corrente é a que entende que é uma terapia alternativa. Na Santa Casa de Santos, a visita só é permitida em duas alas: na Pediatria e na UTI pediátrica. A restrição é na Oncologia Pediátrica, pois as crianças internadas são imuno-depressivas.

O pediatra Wilson Tsuneo Nishimura, que acompanha Edinaldo, vê o projeto como uma novidade para a ciência. "Como ele não sai, é uma forma de ele ver alguma coisa diferente”, diz Nishimura. E concorda com a psicóloga que os pacientes ficam mais estimulados, ajudando na parte psicológica. Além de ser uma outra forma de distração para quem está internado. "A parte negativa eu ainda não vi", diz o pediatra.

Além das crianças internadas, os funcionários do hospital também aproveitam para descontrair com a visita que é feita todas às quartas-feiras, às 13 horas. A analista contábil Silvia Barbosa Nascimento de Oliveira questiona se o cachorro também irá visitar as crianças da contabilidade. "É um momento de descontração, em que a gente se desliga um pouco do estresse do dia- a -dia", avalia a funcionária.