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Feliz idade radical
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Idade não é problema para Américo Antônio, trabalhador assíduo, aos 83 anos. |
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Por Miriam Borowski |
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Aos 83 anos, todas as manhãs, o hoje controlador de acesso da Universidade Santa Cecília Unisanta, Américo Antônio, levanta às 5 horas e faz seu exercício de alongamento por 25 minutos. Toma o seu café matinal e vai para o trabalho. Rotina essa que dura há 26 anos. Aposentou-se com 49 anos como motorista, e depois foi trabalhar novamente como motorista para a família Teixeira, mantenedora da universidade.
Casado há 60 anos com Odete, tem uma filha, três netos e dois bisnetos. Com a esposa doente e sem poder viajar, conseguiu através do esporte uma maneira de recarregar as energias. “Descobri que ainda estou vivo, mais jovial, liberto, mais importante”. “Aumentou minha auto-estima”, completa.
Mas como tudo isso começou? Para saber, é necessário retornar há três anos em seu aniversário de 80 anos. Na ocasião, Américo ficou surpreso ao acompanhar uma matéria sobre uma senhora de sua mesma faixa etária, e que tinha voado de paraglider ou parapente, como a modalidade é conhecida no Brasil.
Curioso, comentou a reportagem com o professor de Ecologia da Universidade, João Alberto Páscoa, um outro praticante do esporte. Foi quando se surpreendeu com um inusitado presente de aniversário: voar com ele de paraglider. Mesmo almejando ter a experiência, não aceitou a chamada de primeira. Preferiu esperar.
Alguns dias depois, resolveu passear com sua esposa no morro da Asa Delta, em São Vicente, onde esportistas praticavam vôos, tanto de asa delta como de paraglider, e ficou observando a maneira como cada equipamento levantava vôo. Concluiu, então, que o segundo era mais seguro, e decidiu se dar uma chance. Procurou o professor que havia oferecido o presente e combinou o dia do esperado e inusitado vôo.
Américo comunicou a família, e, no grande dia, todos o acompanharam para o seu primeiro vôo panorâmico. A emoção foi contagiante, e o controlador de acesso viveu um dos momentos mais felizes de sua vida. "Hoje descobri que para ser feliz não importa a idade e sim o estado de espírito", diz Antonio.
O professor que voou com Américo pela primeira vez lembra até hoje da maneira como ele reagiu ao voar e o que o corajoso senhor dizia. “
Ele gritava assim: ‘Seu Américo no topo do mundo, no topo do mundo’, e abria os braços como se fosse uma criança, um pássaro livre”, recorda Páscoa, com carinho. “Em dez anos de vôo, foi à primeira vez que voei pensando em alguém e não em mim, e foi fantástico. Ele é uma pessoa maravilhosa e querida por todos na universidade”.
Reginaldo Amaral, instrutor da Escola de Parapente Dinâmica do Ar e conhecido pelo codinome de Baratta, acompanhou os vôos seguintes de Américo e também vivenciou um momento marcante. Para ele, fazer parte dessa superação foi especial em sua vida.
“Eu tive a oportunidade de realizar um sonho, principalmente por se tratar de uma pessoa com mais idade. A maioria acha que, em razão disso, nunca poderiam voar. Com o seu Américo não poderia ser diferente. Ele se sentiu muito à vontade, realizado e feliz, por conseguir praticar, por mais de uma vez, um esporte radical”, relembra.
Reconhecimento - Se a ‘moral’ de Américo já era elevada entre seus colegas, agora então, foi mais além. A amiga recepcionista Selma Maria Teixeira, de 42 anos, é prova dessa admiração. “Ele é um marco no Santa Cecília. Um amor de pessoa, trata todos como se fossem da família, com muito carinho e uma sabedoria sem igual. É a alma dessa recepção, uma pessoa insubstituível. Nem as pessoas mais jovens que trabalham aqui possuem a paciência e o carisma que ele tem”.
A diretora do Colégio Santa Cecília, Marilisa Grottone, também tem ótimas recordações do profissionalismo de Américo. “Trabalhamos juntos há bastante tempo e ele sempre manteve a mesma conduta: a de um profissional responsável, prestativo e super-atencioso com os pais e alunos, de um caráter maravilhoso, disposto a ajudar em qualquer situação, fosse de emergência ou coisas particulares”.
Mas as aventuras e ‘diabruras’ do radical Américo não são pouco conhecidas. Pelo contrário. Trata-se talvez do controlador de acesso mais famoso do Brasil. Quem lembra é o próprio Américo, contando que já que recebeu várias homenagens de alunos do colégio e universitários da Engenharia Civil. Além disso, por muitas vezes, emissoras de vários veículos já o procuraram para entrevistas sobre sua aventura no ar. “Hoje me sinto muito mais importante, saí do anonimato. Antes eu era anônimo, agora sou reconhecido”, orgulha-se.
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