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Conheça os benefícios da eqüoterapia para crianças e adolescentes especiais |
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Por Flávio Antunes |
Fotos: Flávio Antunes
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O dia estava frio e chuvoso, típico para ficar em casa assistindo televisão. Mas eles estavam lá. Brincando, alimentando e acariciando seus amigos que também não falam, mas pelo olhar se comunicam. É uma mistura de paixão, alegria e intimidade. Um momento deles, cavalo e criança. Ali, naquele picadeiro coberto que os protege da chuva, os dois esquecem que são observados por pais, psicóloga e fisioterapeuta. Ambos vivem o amor, o respeito, a confidência, os segredos. Segredos que não entendemos, mas compreendemos.
Os cavalos fazem parte de suas histórias. Por meio da eqüoterapia, crianças e adolescentes com necessidades especiais têm atingido uma qualidade de vida mais prazerosa e tranqüila. Isso mesmo, tranqüila. Segundo Deusa da Silva Pinheiro, o filho Paulo Henrique Silva Pinheiro, de 7 anos, com paralisia cerebral e deficiência visual, melhorou bastante depois que começou a praticar a equoterapia: “Ele ficou mais calmo, além de ter melhorado a postura. Inclusive, começou a pintar”.
A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência ou com necessidades especiais. Ela emprega o cavalo como agente promotor de ganhos físicos, psicológicos e educacionais.
A pedagoga Daniela Perri é coordenadora do Centro de Atendimento da Associação de Equoterapia que funciona em Santos, no Horto Portuário e em São Vicente, no Horto Municipal. Ela coordena um trabalho que envolve médicos, psicólogos, fisioterapeutas e profissionais de equitação. As crianças passam por uma avaliação individual para serem encaminhadas de acordo com suas possibilidades e necessidades. Existem casos de contra-indicação como luxação no quadril, osteoporose muito severa ou outros problemas. Mas tudo depende de uma avaliação feita primeiramente pelo ortopedista Abraão Autuam.
Luis Henrique Cardoso é pai de Daiane das Graças, de 16 anos. Ele conta que a filha tinha problemas no quadril, osteoporose e escoliose. Ela já passou por dois tratamentos. “É muito bom. Ela ficou mais tranqüila, melhorou a postura, se distrai mais, além de ter melhorado sua auto-estima. Perdeu o medo de enfrentar as coisas, de tomar atitudes”, afirma Cardoso. Daiane não fala e não expressa muito os sentimentos. Mas quando é dia de equoterapia dá para perceber que ela acorda diferente. “A gente sente a alegria dela”, confidencia Cardoso.
Segundo a pedagoga Daniela, as atividades, por serem feitas em espaço aberto, com natureza, dão as crianças a possibilidade de avanços e conquistas. “O manejar do cavalo, alimentá-los, acariciá-los, são situações desafiantes que as tornam participativas”. Os cavalos têm um tratamento especial. São escovados todos os dias, possuem uma alimentação regrada, e têm suas horas de descanso. A coordenadora relata que cada criança ou adolescente só pode permanecer no tratamento por um ano. Atualmente, existem 72 crianças em Santos e 72 em São Vicente. Depois eles se matriculam novamente e esperam para retornar. “A grande maioria volta, pois eles adoram as atividades com os cavalos”, diz Daniela.
É o que relata Ana Paula Muniz Ferreira Costa. Mãe de Rodrigo Ferreira Costa, de 16 anos. Ela diz que quando o filho aguarda para começar a aula, ele fica gritando: ”Toooommm. Toooomm...”. Em referência ao Tom, cavalo do primeiro ano de atividades. Agora, Rodrigo chama todos os cavalos de Tom. E após o término da aula, ele não quer ir embora. Fica bravo quando tem que deixar seu cavalo.
Essa amizade e carinho são naturais, pois eles trocam amor e cumplicidade. “Os trabalhos em lugares diferentes, com a companhia dos animais, ajudam as crianças a se aceitarem melhor, a terem disciplina, autocontrole. O desenvolvimento é lento e gradativo, mas muito compensador”, diz Gisele Perondi, psicóloga há dez anos do Centro de Atendimento da Associação de Equoterapia.
Um tratamento para todo o corpo
A equoterapia exige a participação do corpo inteiro, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da força, tônus muscular, flexibilidade, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio. Ana Carolina Braga, fisioterapeuta da equipe, diz que a equoterapia é um processo de paciência e evolução gradativa: “Os pacientes desenvolvem a coordenação motora, o equilíbrio e melhoram o próprio comportamento. A interação com o cavalo, incluindo os primeiros contatos, o ato de montar e o manuseio final, desenvolve novas formas de socialização, autoconfiança e auto-estima”.
O método foi aprovado pelo Conselho Federal de Medicina, em 9 de abril de 1997. A Divisão de Ensino Especial da Secretaria de Educação do DF reconhece que a equoterapia é um método educacional que favorece a alfabetização, socialização e o desenvolvimento global de alunos portadores de necessidades educativas especiais.
Matéria produzida em 2006
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