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O Patriarca da Ecologia
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O Patriarca se notabilizou pelo seu profundo comprometimento com a igualdade social, o equilíbrio ecológico e com a liberdade |
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Por Patricia Trebitz |
Fotos: Divulgação
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O Patriarca da Independência não foi apenas um articulador político e mentor de D. Pedro I e de seu filho. Lutou contra o racismo, defendeu a ecologia, ligou se aos maiores centros de atividade científica da Europa, onde estudou Direito, Filosofia Natural, Botânica, Matemática, Mineralogia, Montanhística, Química aplicada, Metalurgia e Legislação das Minas.
Mas José Bonifácio era maior que seu país. Dotado de uma inteligência brilhante, esse Patriarca era um homem à frente de seu tempo.
“A verdadeira política é filha da Razão e da Moral”. Essa é uma dentre tantas frases proferidas por José Bonifácio de Andrada e Silva, que se notabilizou não só pela importância política, mas por inúmeros outros aspectos.
José Bonifácio nasceu em 13 de junho de 1763, na “Villa de Santos”, assim chamada na época. Até os 14 anos, estudou aqui, porém como o ensino era precário, seus pais resolveram mandá-lo para São Paulo, onde concluiu sua instrução.
Em 1783, com 20 anos de idade, foi para Portugal estudar Direito e Filosofia Natural na Universidade de Coimbra. Só reviu sua “Villa” natal aos 57 anos. Saiu pouco depois de Santos para as lutas da Independência, e nunca mais voltou.
Desde jovem, ainda universitário, José Bonifácio já era grande defensor da justiça social, escrevendo dissertações em prol da emancipação dos escravos africanos e da proteção devida aos índios brasileiros.
Contrariando os argumentos raciais em voga no século XIX, como a inferioridade biológica do negro, ele apostava na “mistura do sangue” como fator de vitalidade social, exemplificada pela especial habilidade dos mulatos.
Já mais tarde realizou e fundamentou um programa político, estritamente subordinado às determinações supremas da moral. E em 1823, apresentou à Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil uma “Representação” contra a escravidão.
Não tardou, após sua formatura, com um excelente currículo, ser convidado a ingressar em 1788 na Academia de Ciências de Lisboa, onde trabalhou em prol de Portugal.
Era tão grande sua notoriedade, que sob proposta da Academia, foi enviado a França e outros países da Europa, para aperfeiçoar seus estudos de ciências naturais.
Foi em Paris que estudou Botânica e Mineralogia, partiu para a Alemanha onde cursou Matemática, Legislação das Minas, Química Aplicada, Metalurgia e Montanhística.
Concluindo seus cursos na Alemanha, passou para outras regiões da Europa, onde aplicou seus conhecimentos e escreveu inúmeros trabalhos. Na Suíça, descobriu novas espécies e variedades de minerais, ao todo 12.
Durante 10 anos Bonifácio estudou amplamente a ciência natural. Atravessou a Bélgica, percorreu a Holanda, voltou à Alemanha, parou na Hungria e na Bohemia e por fim foi até a Turquia, sempre observando, estudando, inquirindo, acrescendo ao seu já respeitável patrimônio científico, novos conhecimentos, novas descobertas.
Ao voltar para Portugal, José Bonifácio lança mão de todo o seu conhecimento para aplicá-lo, ensinando desde como reaproveitar o solo na agricultura, até estimular a desaparecida indústria de mineiração. Para isso cria, na Universidade de Coimbra, uma cadeira de Metalurgia.
Dentre várias obras científicas, as que se destacam pelo seu conteúdo visionário e ecológico são: “Memória sobre a necessidade e utilidades do Plantio de novos Bosques em Portugal, particularmente de pinhais nos areais de beira-mar seu método de sementeira, costeamento e administração”.
Esta obra escrita em 1812, descreve a necessidade urgente de Portugal reflorestar áreas áridas, nos terrenos marinhos que não podiam servir para a lavoura, e nos cumes e ladeiras improdutivas.
Vamos transcrever um trecho da obra de Bonifácio:
...”São de duas ordens esses proveitos: os naturais e cósmicos, e os políticos. Entre os primeiros, avultam, além de outros, o reaparecimento da caça, a abundância dos estrumes naturais oferecidos pelas folhas e resíduos a umidade necessária para a vida das plantas e dos animais a purificação da atmosfera respirável pela absorção dos miasmas dos charcos a amenidade da temperatura na estação cálida. Sem as matas não há umidade sem umidade não há chuvas nem orvalhos, porque são as matas que chupam dos mares, dos rios e das lagoas os vapores que, dissolvidos em parte caem em chuvas e em parte decompostos em gases, vão limpar os ares e alimentar a respiração dos animais. Sem chuvas e sem orvalhos não há fontes sem fontes não há rios e sem rios não há navegação, perecendo o comércio, a lavoura e a indústria..."
Em outra obra escrita em 1790 e intitulada “Memória sobre a pesca das baleias e extração de seu azeite com algumas reflexões a respeito das nossas pescarias”. Nesta, o Patriarca faz menção à pesca predatória de baleias no litoral brasileiro, com ênfase na necessidade de se conter a matança de baleias fêmeas e seus filhotes, destacando a importância de futura descendência. Discorre sobre a pesca em geral brasileira e os principais erros cometidos nas pescarias, que resultavam em danos irreversíveis à economia, tanto do povo quanto do país.
Além de obras científicas, Bonifácio escreveu poesias, uma delas chamada “Ode a D. João VI”, manifesta a profunda preocupação com a dura realidade dos índios e a terrível condição dos escravos, invocando em favor destes a benevolência e os sentimentos magnânimos do Rei.
Trecho:
“Ilumina teus Povos: dá socorro
Pronto e seguro ao índio tosco, ao negro,
Ao pobre desvalido então riqueza
teus cofres encherá...”
De volta ao Brasil em 1820, foi nomeado conselheiro de D. João VI, elaborando um plano de criação, no Brasil, de uma Universidade Parcial de Ciências Naturais de uma Sociedade Econômica da Província de São Paulo, destinada a promover a indústria popular, e de uma Academia de Agricultura.
José Bonifácio era Grão - Mestre da Maçonaria, cargo mais alto da irmandade. Foi em grande parte no seio desta entidade que os destinos políticos do Brasil foram traçados e selados.
Com apoio da futura imperatriz Leopoldina, foi ele quem aconselhou D. Pedro a proclamar a Independência do Brasil, enviando carta urgente ao príncipe regente, que se encontrava em viagem a caminho de São Paulo.
Ao informar o futuro monarca sobre as intenções das Cortes Portuguesas em re-transformar o Brasil em colônia, revogando todos os decretos por ele tomados desde que decidiu aqui permanecer, D. Pedro que se encontrava às margens do Rio Ipiranga, proclamou o famoso grito Independência ou Morte.
José Bonifácio que era ministro do Interior e Estrangeiros desde 1822, foi o verdadeiro guia político do País e mentor do monarca.
Atuou em duas frentes: consolidar a soberania do Brasil e a cidadania do brasileiro, propondo alianças políticas e comerciais com diversos países, o aldeamento e a civilização dos índios e a abolição gradual, já em 1823, do tráfico de escravos africanos.
Por ter enorme influência na vida política e social do Brasil, José Bonifácio atraiu poderosos inimigos. Em 1823 foi demitido de seus cargos e mandado para o exílio, com seus dois irmãos. Só voltaria em 1829.
De volta ao Brasil, assistiu a abdicação do imperador, em 1831, e foi nomeado tutor de seus filhos, entre eles o herdeiro do trono, D.Pedro II, que contava com cinco anos de idade.
Convicto de seus ideais para o país, José Bonifácio e seus irmãos fundaram um partido político : Caramuru, ou Restaurador, que promovera a restauração do antigo imperador.
Porém, novamente seus adversários conseguiram destituí-lo da tutoria e exigiram novo exílio, só que desta vez em sua própria casa, na Ilha de Paquetá RJ.
Julgado como traidor da Pátria em 1835 e unanimemente absolvido, José Bonifácio veio a falecer em 1838, cansado de tantas desventuras.
Cargos e notoriedade
Cargos em Portugal:
- Presidente da Academia de Ciências de Lisboa por sete anos
- Intendente das Minas e Metais do Reino
- Intendente das Minas e Superintendente das Matas e Sementeiras
- Administrador das minas de carvão de pedra de Buarcos
- Administrador das antigas fundições de ferro de Figueirró dos Vinhos e Avellar
- Promovido na Direção do Real Laboratório da Casa da Moeda de Lisboa onde também ministrou um curso chamado: Docimásia
- Dirigiu a Sementeira de pinhais nos areais das costas marítimas, começando por Couto Lavos
- Foi nomeado Desembargador ordinário efetivo da Relação e Casa do Porto
Superintendente do rio Mondego e Obras Públicas de Coimbra
- Diretor Hidráulico das obras de encanamento do rio Monddego onde escreveu instruções para servirem de regulamento a tais obras
- Provedor da Finta de Maralhões.
Cargos no Brasil:
- Conselheiro de D. João VI
- Grão-Mestre da Maçonaria
- Ministro do Interior e Estrangeiros
- Tutor dos filhos do Imperador, entre eles o herdeiro do trono D.Pedro II
- Fundador do Partido Caramuru, ou Restaurador.
Notoriedade:
- Membro da Academia Real das Ciências de Copenhague 1808
- Membro da Sociedade Filomática de Paris e da Sociedade de História Natural 1797
- Membro da Sociedade dos Investigadores da Natureza de Berlim 1797
- Membro da Academia Real de Ciências de Estocolmo 1797
- Membro da Sociedade Mineralógica de Iena
- Membro da Academia Real de Ciências de Turim 1801
- Membro da Sociedade Werneriana de Edimburgo 1802
- Membro da Sociedade Lenneana de Londres
- Membro da Sociedade de Ciências Físicas e História Natural de Génova
- Membro da Sociedade de Ciências Filosóficas de Filadélfia
- Membro do Instituto de França, como sócio correspondente da respectiva Academia de Ciências 1818
- Eleito como Secretário Perpétuo da Academia real de Ciências de Lisboa 1812.
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