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Cerâmica: arte, ecologia e estilo de vida
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Cerâmica existe há 24.500 anos a.C |
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Por Viviane Mattos |
Fotos: Viviane Mattos
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“A cerâmica é natural, vem direto da natureza, então só pode fazer o bem. É uma arte limpa, diferente de outros processos artísticos que usam materiais tóxicos e poluentes”. A explicação é da artista Márcia Beltracchini, 56 anos.
Com orgulho, conta que vive há trinta anos do trabalho com a cerâmica. Possui um atelier, dá aulas e vende bases para alunos e amantes da arte. Menciona também o tratamento terapêutico que pode ser desenvolvido através da cerâmica.
Lembra que na época que estudou não era comum faculdade de artes e que tudo que aprendeu foi em cursos de aperfeiçoamento.
O trabalho terapêutico desenvolvido com arte ou sem ela, vem sendo estudado por psicólogos há anos. Hoje é comprovado o poder de cura que a pintura e trabalhos manuais exercem sobre pacientes com problemas emotivos.
Com a utilização da porcelana, a cerâmica alcançou níveis elevados de sofisticação. Vários utensilíos domésticos, como louças, panelas, filtros e objetos decorativos podem ter altos custos, dependendo do processo empregado.
Essa questão é vista de várias formas, Márcia acredita que o produto elitizado pode ser tão bom quanto qualquer outro produto, pois o que diferencia é somente o nome do artista que o fez. “Você paga pelo nome”.
Há quem compre arte para ter status, só pelo nome de quem a faz. E há quem ame arte sem se apegar a autores ou modismos.
A verdade nem sempre é aquilo que se vê. O artista incorpora suas idéias na escultura e o “apreciador” associa aquilo através de seus próprios parâmetros. Nem sempre o que ele vê é o que realmente o autor quer dizer.
Elver Savietto, ceramista e professor na UNISANTA, explica melhor essa conceitualização.
“O conceito de arte muda de tempos em tempos, conforme a época, a sociedade, os gostos, costumes, a tecnologia e o próprio homem.Para os egípcios, a arte era feita com o intuito de servir após a morte. Para os gregos, para celebrar a vida. Hoje, arte pode ser muita coisa!”
Savietto acha que a arte pode ser vista de várias formas, isso depende do ângulo do artista.
“Desde o barro ricamente trabalhado até uma instalação de séries de aparelhos de TVs, todas fora do ar. A arte continua sendo a expressão feita pela alma humana, a fim de “tocar” no íntimo humano, comunicando paixões ou belezas, vistas por todos ou só pelo artista, denunciando fatos ou registrando acontecimentos. Pode ser intelectualizada ou não.
Basta ir a uma bienal em São Paulo para ver como o conceito de arte muda rápido, ironiza o artista, que leva a arte como ideologia de vida.
Conceito que acredita existir na cerâmica também. Savietto diz que cada artista segue um estilo e que as peças trabalhadas refletem a alma de cada um. “Isso condiz com o humor de quem trabalha, ou seja, se o dia não está bom para o artista, isso também acontece com a arte desenvolvida”.
Filho de artistas, aprendeu a gostar de arte por influência da família. Desde criança teve à disposição brinquedos. Mas também lápis de cor, tinta e coisas do gênero.
Gostava de brincar, mas dava muita atenção aos materiais de arte. O pai pintava quadros a óleo e lia muitos livros em casa.
Savietto conta que seu primeiro contato com cerâmica foi sob sua orientação, em casa. “Foi meu pai que me deu um pouco de argila e ensinou-me a modelar. Adorei, foi amor à primeira vista!”.
Para leigos, artesanato de cerâmica podem ser simples objetos utilitários, ou podem ter valor e beleza. Mas para quem trabalha com arte, isso é muito mais! É um estilo, uma ideologia de vida.
Pela mão do artista
Desde a pré-história permanecem vestígios de objetos de cerâmica. Claro que não eram esculturas como as que existem hoje, muito menos eram feitas com as diversas técnicas que são aplicadas nas modelagens contemporâneas. Mas os componentes básicos ainda persistem.
A mistura de água e argila até chegar ao “ponto” é o que faz a massa consistente, capaz de criar objetos, feições e vários tipos de utensílios. A partir desse processo, uma pessoa comum fará um objeto para uso ou simples enfeite. Mas se tiver talento e imaginação, transformará aquela massa em arte.
Todos, artistas ou não, se valem de lápis para desenho, tinta e forno. Forno?
É, forno. Pois é nele que o desenho e a pintura da cerâmica irão aparecer na sua forma artística. Depois de aplicados, corantes e tintas especiais, a peça é levada a um forno onde ganha uma cor viva, a qual se sobressai na escultura, além de ganhar brilho extremo!
Das diversas técnicas de cerâmica, uma das mais conhecidas é a “raku”, processo que consiste em colocar a peça no forno com intuito que as cores fiquem mais fortes, ou como se diz, no processo gráfico: quentes. Depois de tirar a peça do forno, que é sempre a gás incandescente, é preciso fazer uma redução da atmosfera em volta da peça, cobrindo com serragem de madeira ou folhas secas, capim seco, papel ou qualquer material que abafe e faça muita fumaça.
Isso modifica a cor original do esmalte, metalizando a peça com diferentes nuances, obtidos somente pela técnica “raku”. Uma peça nunca será igual a outra, seja com o mesmo esmalte, e na mesma queima.
História
As primeiras peças de cerâmicas foram encontradas por arqueólogos na Tchescolováquia datando de 24.500 a.C.
Outras importantes peças foram encontradas no Japão, há cerca de oito mil anos, e no Brasil, na região da Floresta Amazônica, com a mesma idade.
A cerâmica é o material que acompanha o homem há mais tempo. Quando saiu das cavernas e se tornou um agricultor, ele necessitava não apenas de um abrigo, como de vasilhas para armazenar a água, os alimentos colhidos e as sementes para a próxima safra. Tais vasilhas tinham que ser resistentes ao uso, impermeáveis a umidade e de fácil fabricação. Essas facilidades foram encontradas na argila.
São objetos simples. A capacidade da argila de ser moldada quando misturada em proporção correta de água, e de endurecer após a queima, permitiu que ela se expandisse através dos continentes.
Hoje no exterior,dependendo do lugar, o objeto de cerâmica chega a custar caro.
A técnica indígena no Brasil
Os índios, em sua grande maioria, que habitam a Amazônia, há gerações confeccionam com muita habilidade e minúcia peças cerâmicas utilitárias e decorativas.
A coloração é obtida usando minerais e vegetais: barro vermelho e de outras cores, urucu, piquí além de outros pigmentos encontrados na natureza.
Um barro de cor marrom é coletado na beira de pequenos córregos. Dizem os índios que, quando o arco-íris aparece por cima do igarapé, nas suas extremidades se acha argila boa para fazer cerâmica. As mulheres transportam a argila em cestas e guardam-na dentro da maloca ou embaixo de um jirau, coberta com folhas de bananeira. Nas horas de folga, confeccionam as peças.
A ceramista trabalha sentada diretamente no chão e às vezes sobre uma esteira rústica. O serviço pode ser realizado por uma pessoa apenas, ou auxiliada por outra, sendo que esta normalmente faz os retoques da peça. A técnica de manufatura é a mesma para qualquer objeto, o que varia é o formato.
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