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Um senhor fotógrafo
Aos 87 anos, José Dias Herrera, fotógrafo oficial de Pelé, pensa em parar. Alguém acredita?
Por Carolina Iglesias
José Dias Herrera, o seu Zezinho, é um dos mais antigos fotógrafos do País na ativa. Com bom humor, diz que agora é o momento para se dedicar à família: "Acho que vou parar". E relembra a sua história. Após chegar de São Paulo, em 1928, onde viveu até os 7 anos, começou a trabalhar para ajudar a família: os pais e quatro irmãos.

Na época, o pai havia adoecido em conseqüência da gripe espanhola, mas Zezinho, o filho mais velho, pôs o corpo em luta. Aos 10 anos, começou em uma loja de tecidos, a Casa Lenke, no Centro de Santos.

Aos 14 anos, se apaixonou pela fotografia. “Eu sempre parava para admirar as fotos expostas na Casa de Artigos Fotográficos, de Luiz Worisptz, a única do gênero na Cidade, na década de 1930. Um dia, enquanto admirava a vitrine, o dono me perguntou se eu queria aprender a fotografar. Eu disse que estava disposto a tentar e então fui convidado para trabalhar ali, ganhando o dobro do meu salário na loja de tecidos”, conta.

Depois de pedir a autorização dos pais, Zezinho nunca mais deixou de fotografar. Em cinco décadas de atividade, suas fotos estiveram estampadas no Diário de Santos,, antigo jornal do grupo Diários Associados, e depois em A Tribuna, onde veio a se aposentar, além de fotografar para a revista O Cruzeiro. Foi também correspondente da Gazeta Esportiva, da Folha de S.Paulo, de O Estado de S. Paulo e de O Esporte.

Herrera carregava as máquinas e tripés de um lado para o outro, em dias de chuva e de sol, retratando a miséria, crimes, incêndios e a transformação de Santos. Desde cedo, além das fotos que fazia para os jornais, ele atendia aos serviços solicitados pela Prefeitura de Santos. Na época, o prédio ficava situado no Valongo.

Seu acervo fotográfico mostra episódios da história recente do Brasil. Atualmente, as fotos são tema de uma dissertação de mestrado. Para Herrera, as décadas de 1940 e 1950 foram as mais ricas em registro, pois os políticos mais importantes do País passavam por Santos: "A maior concentração que já vi em toda a minha vida foi quando Getúlio Vargas, após anistiar Luiz Carlos Prestes, combinou um comício com ele. A multidão ocupava ruas e praças”.

Fotógrafo oficial do ‘Rei’

Apesar de já ter fotografado de tudo um pouco, Herrera dedicou muitos anos da sua carreira à cobertura de futebol, especialmente a do Santos Futebol Clube. É considerado o “fotógrafo oficial de Pelé”. "Fiz fotos do Pelé no Santos desde quando ele era um garoto. Até hoje faço fotos dele. Fui o fotógrafo do seu casamento e fiz a primeira foto do primeiro filho dele, o Edinho”.

Recentemente, recebeu uma homenagem da Prefeitura de Santos, com a exposição de suas fotos no piso inferior do Shopping Parque Balneário. Atualmente, integra a equipe do Diário Oficial do Município de Santos. Com as mãos marcadas pela idade, ele mostra a câmera digital que utiliza na Prefeitura e afirma não gostar dela. "Isso não é fotografia, me sinto um batedor de chapas. Hoje, o fotógrafo não manda mais na máquina. É ela quem tem poder sobre ele", brinca.

Aos 87 anos, José Dias Herrera diz que é uma pessoa totalmente feliz e realizada. O seu maior orgulho é saber que ainda pode fazer o que mais ama na vida — fotografar — e ainda por cima receber a retribuição de colegas e admiradores. "Nunca pensei que chegaria aqui. Quando era criança, cheguei a viver em um porão e agora moro em um bela casa, de frente para a praia, com a minha família. Será que mereço tudo isso?".

Matéria produzida em 2007