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André Porto Alegre
"A publicidade precisa entender que existem três Brasis".
Por Duanne Ribeiro
Fotos: arquivo pessoal
Formado em Jornalismo pela Casper Líbero, ele nunca exerceu a profissão. Começou com Publicidade vendendo anúncios e seguiu carreira. Atuou como contato publicitário na Folha de S.Paulo e acabou contratado pela Maurício de Souza Produções, para tratar do licenciamento dos personagens da franquia. As empresas que quisessem lançar produtos com as imagens da Turma da Mônica tinham de tratar com ele: sandália da Mônica? Iogurte da Magali? Jogo de tabuleiro do Cebolinha?

De lá para cá, André Porto Alegre dirigiu também promoções de marcas importantes como Danone, Colgate e Ford e chegou ao posto mais alto de uma empresa. Uma pós-graduação e os anos de experiência o levaram aos cargos atuais: consultor do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Monte Serrat Unimonte e diretor comercial da agência Circuito Digital.

Para o recém-formado em Publicidade atuar no mercado de trabalho, Porto Alegre diz que só esperança e o diploma não resolvem: “Quem não é curioso, não vai ser bem-sucedido. Informação é hoje o diferencial”. Nessa área de atuação, existem passos específicos. Aos formandos que quiserem trabalhar com mídia — analisando o mercado e conferindo o desempenho dos veículos para definir o investimento publicitário —, é preciso que saibam lidar com conceitos de estatística e de audiência muito bem.

Os que decidirem fazer contatos comerciais devem ter boa capacidade de expressão de idéias, de negociação, de persuasão precisam conhecer seu produto e saber como levar um relacionamento. Para as áreas de criação, redação publicitária e direção de arte, novamente a mesma regra de ouro esmiuçada por Porto Alegre: “O profissional tem de colocar a informação a seu serviço. Os de criação devem ver muito cinema, ouvir muito rádio, ler jornais e livros. Se for trabalhar com redação, deve aprimorar a sua competência lingüística, conhecer os grandes clássicos”. Hora de dar uma olhada naquela parte da estante que ficou esquecida depois do vestibular.

Já para os futuros diretores de arte, a fotografia e os anúncios devem ser fontes de pesquisa constante para aprender mais sobre a linguagem visual. Muito trabalho? Sim, ainda mais porque, de acordo com Porto Alegre, parte das faculdades de publicidade e propaganda ainda não se conscientizou de um detalhe importante. Qual? “A de que fazem parte de um País grande, mestiço e camaleônico. As faculdades tentam fazer alunos para o mercado de São Paulo, um mercado desenvolvido. Mas no Brasil existem três Brasis: um urbano, outro agrícola e outro turístico — os profissionais precisam entender a regionalização, as demandas do mercado local”. Isto é, precisam saber das características próprias da região e adequar a linguagem à realidade local. Porto Alegre cita os quilômetros de costa que o País tem e lamenta: “Devíamos ganhar centenas de prêmios em Cannes usando a temática do mar”.

Revolução Tecnológica

E a revolução no mercado que virá com a TV Digital, a Web 2.0 e os outros avanços tecnológicos? O consultor da Unimonte diz: “A revolução já aconteceu. E continua acontecendo. Na verdade, a palavra ‘revolução’ indica um processo. Houve uma troca de hábitos, e, daqui em diante, ela se reforçará. Não existirá um momento só, em que, da noite para o dia, tudo mude. Existe a sociedade que se relaciona em grande parte com as mídias que evoluem no sentido de três termos: velocidade, interatividade e convergência”.

Segundo Porto Alegre, com a configuração do processo em que vivemos, navegar na internet, por exemplo, vai ser feito com mais rapidez. A TV Digital colocará a grade de programação nas mãos de cada um, o que significará que a novela das oito poderá ser vista às sete da manhã, se o telespectador assim desejar. E em um meio estarão embutidos os outros — é o significado da convergência — como se vê em celulares que hoje só faltam voar, já que telefonam, fotografam, filmam, acessam a internet e tocam música. “Como o comercial vai ser inserido nesse contexto em que não existe break, não há uma hora em que tudo pára para vermos propaganda? O nosso conteúdo tem de ficar dentro do que o indivíduo quer, dentro do entretenimento, por exemplo”, diz.

Processos, mudanças de hábito, diferenças regionais, necessidade de renovação — onde debater todas essas demandas e definir meios de abordagem? Uma das alternativas é o Intercom. De acordo com Porto Alegre: “Trata-se de um belíssimo momento de reflexão, para que se discuta o futuro da comunicação. Há alunos de diversas partes do Brasil, e assim se pode conversar a respeito de problemas que parecem particulares, mas são semelhantes em todo o País, se pode conhecer novas práticas e novas tendências. Em outras palavras, o Intercom significa trocas”.

Matéria produzida em 2007