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Sem cultura, o talento não rola
O designer Rafic Farah diz que conhecer a história da arte é imprescindível para ser um bom profissional na área
Por Daniel Elias e Thiago Rodrigues
Nem sempre ser criativo basta para ser um designer gráfico de respeito. Formado em 1976 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo USP, Rafic Farah diz: “A criatividade ajuda, mas para se destacar na profissão é preciso ser culto e conhecer profundamente a história da arte. Devemos estudar sempre”.

Em mais de 30 anos de atividade, Farah criou o logotipo de marcas como Omino, Abuse e Use C&A e Vício, e das revistas ,Trip e Caros Amigos. Na aula inaugural do curso de Design de Multimeios, ele falou aos alunos da Universidade Santa Cecília: “Houve um avanço significativo no design brasileiro, mas é preciso insistir. Faço o que me dá prazer, mas também trabalho por dinheiro. Isso quer dizer que estudei e que continuo estudando, que conheço a minha profissão e que me dedico. Portanto, sou preparado para fazer o que faço e mereço ganhar bem por isso”.

Rafic Farah impressionou. Começou a palestra de modo inusitado, analisando o auditório do Bloco E da UNISANTA. Percorreu o local, e enquanto ia e voltava, falando sobre as paredes e a estrutura física do espaço, fez o público olhar para o teto. De repente, dezenas e dezenas de cabeças olhando para o alto. “Reparem: este teto foi construído assim, desse jeito, para absorver o som. Por isso, a acústica aqui é perfeita”.

Em seguida, enquanto as cabeças ainda miravam o teto, ele disse: “Vocês devem estar estranhando eu começar assim a palestra, mas é porque sou arquiteto”. Ah!... O público voltou à posição normal, riu, e se soltou. E daí em diante Farah conversou por mais de três horas sobre o design e o ato da criação. E de novo surpreendeu. Pediu licença à platéia e preparou uma dose de uísque. Johnnie Walker, Red Label. Bebeu em um copo plástico e... Interrompia o que estava dizendo para preparar uma nova dose.

O que mais irrita Rafic Farah é a pressão dos departamentos financeiros: “Para mim, esses departamentos tolhem a criatividade do profissional, do artista. Exigem custo baixo. Não conseguem enxergar que a empresa está investindo em si mesma. Com design e arquitetura, você não pode querer economizar, pois se trata de um patrimônio da própria empresa, da sua própria imagem”.

Farah falava e os slides explodiam na tela: desenhos, álbuns de fotos, capas de discos, livros, embalagens, mais fotos, revistas, catálogos, lembranças. A ex-mulher... A mesma coisa pode ser dita de várias maneiras. Som na caixa: Tico-Tico no Fubá: de Carmen Miranda a Charlie Parker e Altamiro Carrilho... Som na caixa. Tom Jobim — Águas de Março —, agora para demonstrar passo a passo a criação de uma campanha da Coca-Cola. Mais som: Dave Brubeck, com Take Five, de novo a música deflagra a inspiração de uma campanha. Mais Tom Jobim, Samba do Avião.... O artista mostrou detalhadamente como nasceram as suas idéias e que de modo conseguiu concretizá-las.

Como todas as linguagens, Farah diz que o design precisa ser revigorado. “O design gráfico está diluído. Não há nada de novo. É preciso um bom conteúdo ficcional ou jornalístico para justificar o trabalho do designer. Para mim, o título de melhor design gráfico do mundo pertence a um jornal brasileiro, o do Jornal da Tarde dos anos 60 e 70”.

Rafic Farah também é fotógrafo, pintor, escultor, escritor e cenógrafo. Em 1973, fez o roteiro de As Incríveis Aventuras do Capitão Bandeira, inspirado no filme de Antonio Calmon, O Capitão Bandeira Contra o Doutor Moura Brasil. Lançado dez anos depois, em uma semana o gibi vendeu 4,5 mil exemplares, em co-autoria com Paulo Caruso.

Matéria produzida em 2007