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A corrida do ouro não é para todos
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Na luta pelo visual, acabei ficando careca! |
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Por Noemi Bragança |
Fotos: Noemi Bragança
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Talvez seja melhor dar uma de Matrix e dizer: “Infelizmente, não se pode explicar o que é a Second Life SL. Você tem que ver por si mesmo”. Não é um jogo, mas você pode jogar. Não é uma sala de bate-papo, mas você pode conversar. SL é um mundo virtual 3-Donde tudo — ou quase tudo — é possível. O que o torna muito mais revolucionário do que um mero The Sims com interatividade on-line e mais opções é uma coisa só: dinheiro.
Enquanto procurava estágio, percebi que nesse mundinhovirtual rola muita grana não-virtual. O dinheiro é contabilizado em Linden não por acaso, é o nome da empresa criadora do serviço e o Linden pode ser trocado por dólares vivos. A taxa de câmbio atual em junho era de cerca de L250 por dólar. Para o real, o cálculo fica mais complicado: primeiro deve-se comprar dinheiro em Kaizen outra moeda imaginária e com Kaizens é possível comprar Lindens .
O fato é: dentro dessa terra fantástica, ainda livre de impostos e ligeiramente anárquica, existe gente fazendo dinheiro. Como? Qualquer coisa vale. Como na vida real, basta empreendedorismo, criatividade, investimento, o domínio de certas habilidades e, às vezes, pura sorte. Já foi divulgado que uma mulher tornou-se milionária na vida real com a revenda de terrenos virtuais. Designers e arquitetos, de acordo com relatos, têm se dado bem no SL, com a construção de casas e outros estabelecimentos. Empresas estão utilizando o ambiente imaterial como locação de treinamentos para funcionários e palestras. Especialistas afirmam que esse é o grande novo terreno para marketing.
Quis a minha fatia do bolo. Criei uma conta no site www.secondlife.com e mergulhei fundo na Terra das Oportunidades. Minha idéia era ser uma jornalista virtual.
Eis um relato fiel dos meses em que me aventurei no Second Life:
Meu nome é Noemi Babenco, sou o alter-ego da repórter Noemi Bragança.
Existir no Second Life tem muitas semelhanças com a experiência na vida real. É complicado, meio atrapalhado e ligeiramente constrangedor. Dar um simples passo sem esbarrar em alguém pode ser uma verdadeira proeza para os novatos e não se surpreenda caso alguém se irrite com você por isso.
Comecei com a aparência de um avatar padrão: pele morena, cabelos longos castanhos, blusa lilás e jeans. Um tipo bem básico e meio careta... Marcou-me muito o primeiro contato com uma veterana. Principiei dizendo que era nova na brincadeira. Ela respondeu com um simples:
― Percebe-se.
Fiquei constrangida:
― É tão óbvio assim?
― Você tem cabelo de n00b novata, na gíria da internet, roupa de n00b e pele de n00b. Portanto...
A moça, com esvoaçantes cabelos ruivos e um vestido de fada, explicou-me, então, em detalhes, a superioridade da caracterização dela em relação à minha. Descobri que algumas peles têm texturas e outras como a minha pareciam de uma boneca de cera. Descobri que alguns cabelos tinham movimento e outros como o meu pareciam de plástico. Não resisti à tentação da vaidade e gastei as próximas horas da minha jornada e algumas outras mais tarde tentando adquirir um visual menos n00b.
Já fui loura, já fui morena,
Já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
O poema de Cecília Meireles adquire um outro sentido depois do SL. A idéia original era ficar parecida com a minha persona real. Como não queria gastar dinheiro comprando o cabelo e pele ideais, tive de me contentar com o que viesse nos postos de doações. Meu primeiro visual adquiri num lugar chamado “ferro-velho”. A procedência já denuncia a qualidade do material: acabei bronzeada e com um cabelo curto roxo. Tudo a ver com os meus cabelos longos castanhos e a pele clara.
Continuei na luta pelo visual, e num desses vai-e-vem atrás de cabelo fiquei careca. Não me pergunte como. É um desses mistérios da natureza. Acho que foi nesse ponto que desisti e virei um camaleão, figurativamente, é claro.
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