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Você é o líder da matilha!
A psicóloga Luciana Martos fala sobre o relacionamento entre o ser humano e o animal de estimação
Por Danielle Zangrando
Como a senhora explica a relação afetiva entre seres humanos e os animais?

Tem dois lados. O aspecto positivo é quando você inclui o animal na sua casa e dá carinho e amizade. Ele vai retribuir e sempre depender de você. E o negativo é substituir o ser humano pelo bicho e educar de forma errada. Há pessoas que começam a criar situações em que o animal vira uma criança, faz festa de aniversário, coloca roupinhas etc. São situações que não se encaixam. Animal é animal e ser humano é ser humano, independentemente do problema emocional que a pessoa tenha um animal não vai substituir o papel de nenhum ser humano.

Está errado tratá-lo como um membro da família?

Sim, porque o animal vem da matilha e precisa de um líder. Então, se ele não exercer o papel de animal, vai querer ser o dono da matilha, dominando o espaço, o ambiente e, principalmente, o dono. Ele vai deixar o dono dependente dele e não o inverso. Isso é um erro! Mas, é parte da natureza do animal. Então, o dono é quem tem de ser o rei da matilha.

E quando é possível perceber que ele está dominando o próprio dono? Quais são os indícios?

Dá para perceber quando o dono fica preso à vontade do animal. Ele determina quando passear, quando comer certas coisas, exige alguns caprichos e o dono vai obedecendo cada vez mais. O dono é sacrificado e o bicho pode até ser perverso com ele, porque vai sentir que domina a situação. Vai deixar de exercer o papel de animal. É pior do que uma criança mal-educada porque é um ser irracional. A criança entende o que você diz. Já o bicho entende poucas palavras e apenas aquelas que ele escuta sempre. Ele vai ser malcriado porque o dono permitiu que isso ocorresse.

É possível o bichinho pressentir quando seu dono está chegando em casa?

Sim, é possível. Ele tem uma sensibilidade muito aguçada e pressente algumas coisas. Até o seu relógio biológico também funciona assim. Se você acostuma o bicho a fazer algumas coisas em determinados horários, ele te cobra exatamente naquele horário.

O animal tratado com mais carinho é o mais dócil?

Nem sempre. É como uma criança mimada. Ela acaba não sofrendo nenhuma frustração e começa a dominar. Passa a não ser saudável. O bicho não pode dominar o espaço que tem na família. Se ele fizer coisas desagradáveis e não for castigado, não vai aprender o limite. E quando você deixa de castigá-lo, ele vai aprontar cada vez mais. Aí o convívio passa a ser desgastante e a situação insuportável. Ele tem que saber o que pode ou não fazer. Por exemplo, se o animal morde todo mundo dentro de casa e não é reprimido, quando sair na rua vai querer morder todo mundo também. É preciso existir regras para ele conviver na sociedade.

E o que não é tratado com carinho é mais agressivo?

Nem sempre, alguns se tornam revoltados por acharem que não fizeram nada para receber esse tratamento. Ou, o contrário, ficam tão medrosos que em qualquer situação se assustam ao ponto de fazer xixi. Têm medo de tudo e até fogem temendo sofrer uma nova agressão. Neste caso, ficam muito intimidados com o ser humano.

Como eles escolhem o seu dono dentro de uma família?

O instinto do animal depende dos benefícios que você dá a ele. Aquele que brincar mais, levar para passear e dar comida, com certeza vai ser o escolhido.

Como a senhora vê a utilização de animais na cura de doentes?

Em muitas situações os animais são usados para se relacionar com os doentes. E a evolução desses pacientes é muito rápida. Já existem asilos e orfanatos que se utilizam desse artifício. Porque o fator emocional também faz parte da saúde da pessoa. O animal cativa até mesmo aquelas pessoas mais fechadas que não demonstram seus sentimentos. Com seu jeito espontâneo e natural, o bichinho ao pular, lamber deixa a pessoa desarmada. E nesse momento, o paciente projeta as emoções, aquilo que ele estava reprimindo. Muitos problemas emocionais vão ser aliviados neste momento. Se há um tratamento contínuo, com certeza o resultado será positivo, até no sistema biológico. O lado sentimental ajuda mais do que a medicação. E o animal passa a ser um grande aliado neste sentido.